terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

As Origens da Instituição

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As Origens da Instituição






Das três perguntas; "De onde viemos? Quem somos? e Aonde vamos?", nas quais pode subdividir-se e expressar-se o Grande Mistério da experiência, assim como, o princípio de todo o verdadeiro conhecimento e toda a sabedoria, a primeira delas é a que especialmente diz respeito ao Aprendiz.
Aplicada a nossa Instituição, para dar a conhecer sua essência, esta pergunta suscita-nos em primeiro lugar o problema em suas origens, ou seja, aquelas instituições, sociedades, costumes e tradições, nas quais a Maçonaria tem sua raiz, seu princípio espiritual, ainda que sem nelas diretamente ter origem. Deste ponto-de-vista é certo, conforme nos dizem os catecismos, que suas origens perderam-se "na noite dos tempos", ou seja; naquelas remotas civilizações pré-históricas das quais tem-se perdido os vestígios e a memória, e que remontam provavelmente a centenas de milhares de anos antes da era atual. (1)
Os primeiros rituais baseados nas tradições bíblicas, uma vez que seus redatores apoiaram-se pela fé nessas tradições, contam que: "Adão foi iniciado na Ordem do Éden, pelo G. ª em todos os ritos da Maçonaria, isto significando, evidentemente, que as origens da Maçonaria devem remontar à primeira sociedade humana, da qual Adão é um símbolo, correspondendo à Era Saturniana ou Idade de Ouro da tradição greco-romana, e ao Satra Yoga dos hindus.
É certo, pois, que esse íntimo desejo de progresso, essa profunda aspiração em direção à Verdade e à Virtude, esse desejo de trabalhar reta e sabiamente, de que a maçonaria constitui, para seus adeptos a encarnação nasceram, já na aurora da civilização (que todas as tradições concordam em considerar luminosa).
Mas, se o espírito maçônico existiu desde as primeiras épocas conhecidas e desconhecidas - da história, e não foi alheio ao primeiro homem esse mesmo espírito (se realmente tiver existido tiver se expressado naturalmente de uma forma adaptada e conveniente nas primeiras comunidades - íntimas e por tanto secretas - de homens que se isolavam dos demais pelo seu desejo de saber e penetrar o Mistério Profundo das coisas, é igualmente correto que nem sempre ter-se-á manifestado exatamente da forma em que hoje se conhece, se exerce e se pratica.
Entretanto, os princípios imutáveis sobre os quais foi estabelecido essa manifestação, e que constituem seu espírito e sua característica fundamental, não podem ter sofrido variações substanciais, e uma vez que foram estabelecidas em épocas de antigüidade incalculável, devem também ter permanecido basicamente os mesmos através de todas suas metamorfoses ou encarnações exteriores.
Também devem remontar os sinais, símbolos e toques, a íntima essência da alegorias e o significado das palavras que correspondem aos diferentes graus, (por seu caráter e sua transmissão ininterrupta) até a mais remota antigüidade. Ainda que as alterações das lendas - em sua forma exterior - possam ter sido notáveis, entretanto, face ao reduzido e eliminado meio social no qual foram disseminadas, pela própria aparência exterior e ainda, pelas provas e a fidelidade que eram solicitadas aos iniciados, essas alterações sempre se reduziram ao mínimo, sendo mais intencionais (isto é, causadas por necessárias adaptações) que causais.
Além disso, por terem tais alegorias girado ao redor de um mesmo tema ou Idéia Mãe Fundamental, estas alterações devem ter sido geralmente cíclicas, gravitando ao redor de um mesmo ponto, passando, em conseqüência, mais de uma vez pela mesma forma ou por formas análogas.
Apesar do segredo que deve ter caracterizado constantemente a atividade da Ordem, nas diferentes formas assumidas exteriormente, em diversos locais podemos encontrar alguns vestígios que confirmam esta asserção: nos Templos sagrados de todos os tempos e de todas as religiões, entre as estátuas, gravuras, baixos-relevos e pinturas; nos escritos que nos foram transmitidos, em representações simbólicas de origens diversas, nas próprias letras do alfabeto, podemos encontrar vários traços de uma intenção indubitavelmente iniciática ou maçônica (sendo os dois termos, até certo ponto, equivalentes); e eventualmente ocorre não aparecerem nestas representações os mesmos sinais de reconhecimento.
Da mesma forma na mitologia, e nas lendas e tradições que constituem o folclore literário e popular, há muitos traços dos mistérios iniciáticos, daquela Palavra Perdida à qual se refere nossa Instituição, com seu ensinamento esotérico revelado de uma forma simbólica.
O aspecto esotérico da religião - conhecida exotericamente - deve ter conservado através dos tempos esta dupla característica, qualquer que tenha sido a forma exterior particular na qual tenha se manifestado nos diferentes povos e nas mais variadas épocas da história.

A DOUTRINA INTERIOR

Todos os povos antigos conheceram, além do aspecto exterior ou formal da religião e das práticas sagradas, um ensinamento paralelo interior ou esotérico que era ministrado unicamente aos que moral e espiritualmente eram reputados dignos e maduros para recebê-la.
O aspecto esotérico da religião - conhecida exotericamente pelos profanos - era provido especialmente pelos chamados Mistérios (palavra derivada de "mysto", termo que era aplicado aos neófitos, e que significava etimologicamente mudo ou secreto, referindo-se evidentemente a obrigação de segredo selado por juramento, que era pedido a todo iniciado), Mistérios dos quais a Maçonaria pode considerar-se herdeira e continuadora, por intermédio das corporações de construtores e demais agrupamentos místicos que nos transmitiram sua Doutrina.
Esta Doutrina Interior - esotérica e oculta - é essencialmente iniciática, pois que somente será alcançada por intermédio da iniciação, isto é, pelo ingresso num particular estado de consciência (ou ponto-de-vista interior), pois somente mediante ele pode ser entendida, reconhecida e realizada.
A Doutrina Interior tem sido e continua sendo a mesma para todos os povos em todos os tempos. Em outras palavras, enquanto para os profanos (os que se encontram na frente ou fora do Templo, isto é sujeitos à aparência puramente exterior das coisas) tem havido e haverá sempre diferentes religiões e ensinamentos, em aparente contraste uns com os outros, para os iniciados não houve nem haverá mais do que uma só e única religião Universal da Verdade, que é Ciência e Filosofia, ao mesmo tempo que Religião.
Deste ensinamento iniciático, esotérico e universal comum a todos os povos, raças e épocas, as diferentes religiões e as diversas escolas tem constituído e constituem ainda hoje, um aspecto exterior mais ou menos imperfeito e incompleto. As lutas religiosas sempre caracterizaram aqueles períodos nos quais, pela imensa maioria de seus dirigentes, foi perdida de vista aquela essência interior que constitui o Espírito da religião, compreendido unicamente o aspecto profano ou exterior. Pois o fanatismo sempre tem sido acompanhado da ignorância.

OS MISTÉRIOS

Em todos os povos conhecidos da história, na era pré-cristã, houve instituição de mistérios: no Egito como na Índia, na Pérsia, Caldeia, Síria, Grécia e em todas as nações mediterrâneas, entre os druidas, os godos, os escitas e os povos escandinavos na China e entre os povos indígenas da América.
Traços deles podem ser observados nas curiosas cerimônias e costumes das tribos da África e Austrália, e em todos os chamados povos primitivos, aos quais possivelmente, de forma mais justa, deveríamos considerar como originários da degeneração de raças e civilizações mais antigas.
Tiveram fama especialmente os Mistérios de Isis e de Osiris no Egito; os de Orfeu e Dionísios e os Eleusinos na Grécia; os de Mitra, que da Pérsia se estenderam com as legiões romanas, por todos os países do império. Menos conhecidos e menos brilhantes, especialmente em seu período de decadência e degeneração, foram os de Greta e os da Samotrácia; os de Vênus em Chipre; os de Tammuz na Síria, e muitos outros.
Também a religião cristã teve no princípio seus Mistérios, como deixam transparecer os indícios de natureza inequívoca que encontramos nos escritos dos primitivos Pais da Igreja, ensinando aos mais adiantados um aspecto mais profundo e interno da religião, à semelhança do que fazia Jesus, que instruía o povo por meio de parábolas, alegorias e preceitos morais, reservando ao pequeno círculo eleito dos discípulos - os que escutavam e punham em prática a Palavra seus ensinamentos esotéricos. A essência dos Mistérios Cristãos tem-se conservado nas cerimônias que constituem atualmente os Sacramentos.
Igualmente a religião muçulmana, assim como o Budismo e a antiga religião brahmânica, tiveram e têm seus Mistérios, que conservaram e em alguns casos conservam até hoje muitas práticas sem dúvida anteriores ao estabelecimento de ditas religiões, reminiscência daqueles que eram celebrados entre os antigos árabes, caldeus, aramaicos e fenícios, pelo que se refere à primeira, e entre os povos da Ásia Central e Meridional, pelos segundos.
Ainda que os nomes difiram e sejam parcialmente discordantes, a forma simbólica e as particularidades dos ensinamentos e suas aplicações tem sido característica fundamental e originária de toda a transmissão de uma mesma Doutrina Esotérica, em graus diversos e sucessivos, conforme a maturidade moral e espiritual dos candidatos, os quais eram submetidos a provas (muitas vezes difíceis e espantosas) para reconhecê-la, subordinando-se a comunicação do ensino simbólico, e os instrumentos ou chaves para interpretá-la, à firmeza e fortaleza de ânimo demonstradas na superação destas provas.
A própria Doutrina nunca variou em si mesma, ainda que tenha-se revestido de formas diferentes (mas quase sempre análogas ou muito semelhantes) e interpretada mais ou menos perfeita ou imperfeitamente e de uma maneira relativamente profunda ou superficial, por efeito da degeneração, à qual com o tempo sucumbiram os instrumentos ou meios humanos aos quais aquela havia sido confiada. Esta unidade fundamental, assim como a analogia entre os meios, pode considerar-se como prova suficiente da unidade de origem de todos os Mistérios de um mesmo e único Manancial, do qual tem emanado, ou pelo qual foram inspiradas, as diferentes instruções e tradições religiosas, e a própria Maçonaria em suas formas primitivas e recentes.

A UNIDADE DA DOUTRINA

Esta Doutrina-Mãe Eclética que tem sido perpetuamente Fonte inesgotável dos ensinamentos mais elevados de todos os tempos (foco de luz inextinguível, conservado zelosa e fielmente no Mistério da Compreensão e do Amor, que nunca deixou de brilhar mesmo nas épocas mais obscuras da História, para os que tiveram "olhos para ver e ouvidos para ouvir", é a própria Doutrina Iniciática manifestada nos Mistérios Egípcios, Orientais, Gregos, Romanos, Gnósticos e Cristãos, e é a mesma Doutrina Maçônica revelada por meio do estudo e da interpretação dos símbolos e cerimônias que caracterizam nossa Ordem.
É a Doutrina da Luz interior dos Mistérios Egípcios, que era desperta no candidato e tornava-se para sempre mais firme e ativa na medida em que chegava a "osirificar-se", ou seja conhecer sua unidade e identidade com Osiris, o Primeiro e Único Princípio do Universo. É a mesma Doutrina da luz simbólica que os candidatos procuram em nossos Templos, e que se realiza individualmente na medida em que cada um se afasta da influência profana ou exterior dos sentidos, e busca o secreto entendimento no íntimo de seu ser.
É a Doutrina da Vida Universal encerrada no simbólico grão de trigo de Elêusis, que deve morrer e ser sepultado nas entranhas da terra, para poder renascer como planta, à luz do dia, depois de abrir caminho através da escuridão em que germina. É a mesma doutrina pela qual o candidato, tendo passado por uma espécie de morte simbólica no quarto de Reflexões, renasce a uma nova vida como Maçom e progride por meio do esforço pessoal dirigido pelas aspirações verticais que o prumo simboliza.
É a Doutrina da redenção cristã, obtida por intermédio da fidelidade na palavra, com a qual o Cristo ou Verbo Divino (nossa percepção interior ou reconhecimento espiritual da verdade) nasce ou se manifeste em nós e nos conduz, segundo a antiga expressão brahmânica "da ilusão à Realidade, das trevas à luz, da morte à Imortalidade". É a mesma doutrina do Verbo ou Logos sobre a qual colocamos nossos instrumentos simbólicos ao abrirmos a Loja, isto é, ao iniciar a manifestação do Logos.
É pois, sempre e onde quer que seja, um mesmo ensinamento que se revela por infinitas formas, adaptando-se à inteligência e à capacidade de compreensão dos ouvintes; uma Doutrina secreta ou hermética, revelada por meio de símbolos, palavras e alegorias que só podem entender e aplicar em seu real sentido os ouvidos da compreensão. É uma doutrina vital que deve fazer-se carne em nós, sangue e vida, para produzir o milagre da regeneração ou novo nascimento, que constitui o Télos ou "fim da iniciação".

A HIERARQUIA OCULTA

O reconhecimento da Identidade fundamental desta Doutrina em suas múltiplas concessões e manifestações exteriores, da idêntica finalidade destas e da identidade dos meios universalmente empregados para ensiná-la, em suas distintas adaptações às diferentes circunstâncias de tempo e lugar, como selo de sua origem comum, faz com que se torne patente a existência de uma Hierarquia Oculta, uma Fraternidade de Sábios de Mestres, que tem sido através das eras sua íntima, secreta e fiel depositária, manifestando-a exteriormente em formas análogas ou diferentes, conforme a maturidade dos tempos e dos homens.
As origens desta Fraternidade Oculta de Mestres da Sabedoria, chamada também Grande Loja Branca (e, na Bíblia, Ordem de Melchisedeck), podem unir-se às primeiras civilizações humanas das quais esses Mestres, como Reis-Sacerdotes Iniciados (conforme é indicado pelo nome genérico Melchisedeck), foram Reveladores e Instrutores, pode-se dizer, desde a aparição do primeiro homem sobre a Terra. Sua existência tem sido e pode ser reconhecida por todos os discípulos adiantados, dos quais os Mestres tem-se servido e ainda se servem para sua Obra no Mundo.
Devemos a esta Hierarquia Oculta, formada pelos genuínos Intérpretes, Depositários e Dispensadores da Doutrina Secreta, o primitivo estabelecimento de todos os Mistérios e todos os cultos, em suas formas mais antigas, mais puras e originárias, assim como, o estabelecimento da Instituição Maçônica e todo o movimento progressista e libertador.
Elevar e libertar as consciências, conduzir os homens das trevas da ignorância e da ilusão, à luz da Verdade; desde o vício até à virtude; e da escravidão da matéria à liberdade do espírito, tem sido sempre e constantemente, a finalidade destes Seres superiores, destes verdadeiros Mestres Incógnitos em suas atividades no mundo.
Todo Movimento elevador e libertador deve considerar-se, direta ou indiretamente, inspirado por esta Hierarquia, formada pelos que se elevaram e se libertaram por si mesmos, sobrepondo-se a todas as debilidades, limitações e correntes (que atam a maioria de nós e nos fazem escravos da fatalidade ou da necessidade em aparência, mas em realidade somos escravos de nossos próprios erros e ilusões); realizando assim o verdadeiro Magistério.
Pelo contrário, todo movimento (político, social ou oculto) que tende a limitar, escravizar, entorpecer e adormecer a consciência dos homens tem uma oposta e diferente inspiração, sendo obra manifesta do Senhor da Ilusão, ou seja, do movimento de refluxo das ondas espirituais. A liberdade individual e o respeito pleno desta tem sido sempre e ainda o são, a característica da linha direita e esquerda da Evolução Ascendente, enquanto a escravidão e coerção assinalam o caminho esquerdo ou descendente.

AS COMUNIDADES MÍSTICAS

Ao lado das mais antigas instituições oficiais dos Mistérios - protegidas por reis e governos com leis e privilégios especiais, por sua influência reconhecidamente benéfica e moralizadora e instintivamente veneradas pelos novos - existiram em todo o Oriente, e especialmente na Índia, Pérsia, Grécia e Egito, muitas comunidades místicas que, se por um lado podem ser comparadas aos atuais conventos e ordens monásticas, por outro, algumas de suas características as relacionam intimamente com a moderna Maçonaria.
Estas comunidades - algumas das quais tiveram, embora outras não caráter decididamente religioso - nasceram, evidentemente, da necessidade espiritual de agrupar-se para levar, ao abrigo das condições contrárias do mundo exterior, uma vida comum mais de acordo com os ideais e íntimas aspirações de seus componentes.
As características destas comunidades, que constituem um laço de união com nossa Ordem, referem-se igualmente à sua dupla finalidade operativa e especulativa - enquanto se dedicavam igualmente a trabalhos e atividades materiais, assim como aos estudos filosóficos e contemplação - à iniciação como condição necessária para nelas serem admitidos, e aos meios de reconhecimento (sinais, palavras e toques que usavam entre si e por intermédio dos quais abriam suas portas ao viajante iniciado que se fazia reconhecer como um deles, tratando-o como irmão, qualquer que fosse sua procedência.
Destas místicas comunidades muito nos fala Filostrato em sua Vida de Apolônio de Tiana, baseando-se nos apontamentos de Damis, discípulo do grande filósofo reformador do primeiro século de nossa Era (ou melhor dizendo, companheiro de viagem, pois por não ser um iniciado, quase sempre Damis era obrigado a ficar na porta dos Templos e Santuários que não possuíam segredos para seu Mestre), Mestre que viajou constantemente de uma a outra comunidade, assim como de Templo em Templo nas mais diversas religiões, e onde sempre encontrou hospitalidade e acolhida fraternal, neles compartilhando o Pão da Sabedoria.
As mais conhecidas foram as comunidades dos Essênios entre os hebreus, dos Terapeutas do Alto Egito e dos Ginosofistas na Índia. Este último termo - que literalmente significa sábios despidos - parece muito bem aplicar-se aos iogues, em seu tríplice sentido moral, material e espiritual, quando se despojavam de toda sua riqueza ou posse material e reduziam seu traje ao que de mais simples havia, despindo-se espiritualmente com a prática da meditação que em seus aspectos mais profundos é um despojo completo da mente (a "Criadora da Ilusão") e das faculdades intelectuais, das quais está revestido nosso Ego ou Alma para sua atuação como "ser mental".

AS ESCOLAS FILOSÓFICAS

Não podemos esquecer igualmente, nesta sintética enumeração das origens da Maçonaria, as grandes escolas filosóficas da antigüidade: a vedantina, na Índia, a pitagórica, a platônica e a eclética ou alexandrina no Ocidente, as quais, indistintamente, tiveram sua origem e inspiração nos Mistérios.
Da primeira, diremos simplesmente que seu propósito foi a interpretação dos livros sagrados dos Vedas (Vedanta significa etimologicamente fim dos Vedas), antigas escrituras brahmânicas inspiradas, obras dos Rishis, "videntes" ou "profetas" com propósito claramente esotérico, como é demonstrado por sua característica primitivamente adavaita ("antidualista" ou unitária), com o reconhecimento de um único Princípio ou Realidade, operante nas infinitas manifestações da Divindade, consideradas estas como diferentes aspectos desta Realidade Única.
A escola estabelecida por Pitágoras, como comunidade filosofico educativa, em Crotona, na Itália meridional (chamada então Magna Grécia), tem uma íntima relação com nossa instituição. Os discípulos eram inicialmente submetidas a um longo período de noviciado que pode comparar-se ao nosso grau de Aprendiz, onde eram admitidos como ouvintes, observando um silêncio absoluto, e outras práticas de purificação que os preparavam para o estado sucessivo de iluminação, no qual permitia-se que falassem, tendo uma evidente analogia como grau de Companheiro, enquanto o estado de perfeição relaciona-se evidentemente como nosso grau de Mestre.
A escola de Pitágoras teve uma decidida influência, também nos séculos posteriores, e muitos movimentos e instituições sociais foram inspirados pelos ensinamentos do Mestre, que não nos deixou nada como obra direta sua, já que considerava seus ensinamentos como vida e preferia, como ele mesmo o dizia, gravá-las (outro termo caracteristicamente maçônico) na mente e na vida de seus discípulos, do que confiá-las como letra morta ao papel.(2)
Em relação a Pitágoras cabe recordar aqui um curioso e antigo documento maçônico, (3) no qual atribui-se ao Filósofo por excelência (foi quem primitivamente usou este termo, distinguindo-se como amigo da sabedoria dos sufis ou sufistas, que ostentavam, com orgulho inversamente proporcional ao mérito real, o título de sábios) o mérito de ter transportado as tradições maçônicas orientais ao mundo ocidental greco-romano.
Desta escola platônica e de sua conexão com os ensinamentos maçônicos, é suficiente que recordemos a inscrição que existia no átrio da Academia (palavra que significa etimologicamente "oriente"), onde eram celebradas as reuniões: "Ninguém deve aqui entrar se não conhecer a Geometria"; alusão evidente à natureza matemática dos Primeiros Princípios, assim como ao simbolismo geométrico ou construtor que nos revela a íntima natureza do Universo e do homem, bem como, de sua evolução.
A filiação destas escolas aos Mistérios é evidente pelo fato de que Platão, como Pitágoras e todos os grandes filósofos daqueles tempos, foram iniciados nos Mistérios do Egito e da Grécia (ou em ambos), e todos deles nos falam com grande respeito, ainda que sempre superficialmente, por ser então toda violação do segredo castigada pelas leis civis até com a própria morte.
Da escola eclética ou neoplatônica de Alexandria, no Egito, podemos estabelecer a dupla característica de sua origem e de sua finalidade, uma vez que nasceu da convergência de diferentes escolas e tradições filosóficas, iniciáticas e religiosas, como síntese e conciliação destas, do ponto de vista interior no qual se revela e torna patente sua fundamental unidade.
Esta tentativa de unificação de escolas e tradições diferentes, por meio da compreensão da Unidade da Doutrina que nelas se encerra, foi renovada uns séculos depois por Ammonio Saccas, constituindo ainda um privilégio constante e universal característico dos verdadeiros iniciados em todos os tempos.

A ESCOLA GNÓSTICA

Diretamente relacionada com a escola eclética alexandrina, a tradição ou escola gnóstica do Cristianismo, tem sido considerada e foi posteriormente perseguida como heresia pela Igreja de Roma.
O gnosticismo tentou conciliar e fundir até o limite possível, o cristianismo então nascente, com as religiões e tradições iniciáticas mais antigas, substituindo o dogma (doutrina ortodoxa, da qual pede-se uma aceitação incondicional como "ato de fé") pela gnosis (conhecimento ou compreensão por meio da qual alcança-se a Doutrina Interior). De acordo com esta escola, o Evangelho, à semelhança de todas as escrituras e ensinos religiosos, deve ser interpretado em seu sentido esotérico, isto é, como expressão simbólica e apresentação dramática de Verdades espirituais.
O Cristo, mais que uma atribuição pessoal de Jesus, seria o conhecimento ou percepção espiritual da Verdade que deve nascer e realmente nasce em todo iniciado, que assim, torna-se seu verdadeiro cristoforo ou cristão. O próprio Jesus seria também o nome simbólico deste princípio salvador do homem, que o conduz "do erro à Verdade e da Morte à Ressurreição".
A própria Fé (pistis), considera-se como meio para chegar à Gnosis, preferivelmente à aceitação passiva e incondicional de qualquer afirmação dogmática, apresentada como uma Verdade revelada.
Apesar das posteridades interpolações, é certo que o Evangelho, as Epístolas e o Apocalipse de São João, revelam claramente um fundamento gnóstico (a mesma doutrina ou tradição gnóstica dizia-se instituída pelos discípulos ou seguidores de São João), e esta tradição gnóstica ou joanita representa no Cristianismo o ponto de contato mais direto com a Maçonaria.

A CABALA HEBRAICA

As antigas tradições orientais e herméticas encontram na Cabala e na Alquimia duas novas encarnações ocidentais que não foram estranhas às origens da moderna Maçonaria.
A Cabala (do Hebraico kabbalah, "tradição") representa a Tradição Sagrada conhecida pelos Hebreus, e por sua vez deriva de antigas tradições caldéias, egípcias e orientais em geral. Trata especialmente do valor místico e mágico dos números e das letras do alfabeto relacionadas com princípios numéricos e geométricos, que encerram em si outros tantos significados metafísicos ou espirituais, dos quais aparece a íntima concordância e a unidade fundamental das religiões.
A antigüidade do movimento cabalista e sua proximidade aos hebreus tem sido negada por alguns críticos modernos, mas, geralmente, admite-se sua existência após o cativeiro da Babilônia, tornando-se assim manifesta sua afirmação doutrinária dos magos caldeus. Especial importância possuem na cabala as palavras sagradas e os Nomes Divinos, atribuindo-se aos mesmos um poder que se faz operativo por meio de sua correta pronúncia - doutrina comum a todas as antigas tradições, que também tem sido desenvolvida de forma racional na Filosofia da Índia, onde o som ou o Verbo é considerado como um espírito da Divindade (Shabdabralman).

ALQUIMIA E HERMETISMO

Como do Oriente asiático tem chegado as doutrinas cabalísticas, do Egito e da tradição hermética (de Hermes Trismegisto ou Thoth, o fundador, tradicional dos mistérios egípcios) faz-se originar a Alquimia (palavra árabe que parece significar "a Substância"), daqueles que se auto denominavam verdadeiros filósofos.
O significado comum e familiar do adjetivo hermético pode nos dar uma idéia do sigilo por meio do qual os alquimistas costumavam ocultar a verdadeira natureza de suas misteriosas pesquisas. Não devemos portanto estranhar se a maioria das pessoas segue acreditando, ainda hoje, que os principais objetivos dos alquimistas foram os de enriquecer-se por meio da pedra filosofal, que deveria converter o chumbo em ouro puro, e alongar notavelmente a duração de sua existência, livrando-se, ao mesmo tempo, das enfermidades por intermédio de um elixir e de uma milagrosa panacéia.
Nessa mística lápis philosophorum, entretanto, nós os maçons não podemos deixar de reconhecer uma particular encarnação, um estado de pureza, refinamento e perfeição da mesma pedra em cujo trabalho principalmente consiste nosso labor. Quando refletimos sobre o segredo simbólico, no qual, à nossa semelhança, envolviam seus trabalhos para ocultá-los aos profanos da Arte, não podemos ter a menor dúvida de que, além dessas finalidades materiais, que justificavam para os curiosos suas ocupações, os reais esforços de todos os verdadeiros alquimistas foram dirigidos para objetivos essencialmente espirituais.
A pedra filosofal não pode ser pois, nada senão o conhecimento da Verdade, que sempre exerce uma influência transmutadora e enobrecedora sobre a mente que a contempla e se reforma à sua imagem e semelhança. Unicamente por meio desse conhecimento, que é realização espiritual, podem converter-se as imperfeições, as paixões e as qualidades mais baixas e vis dos homens naquela perfeição ideal da qual o ouro é símbolo mais adequado.
Com esta chave é relativamente fácil para nós entendermos a misteriosa linguagem que os alquimistas utilizam em suas obras, e como a própria personalidade do homem é o athanor, mantido ao calor constante de um ardor duradouro, onde devem desenvolver-se todas as operações.
O parentesco entre o simbolismo alquímico e o maçônico aparece com bastante clareza no desenho que reproduzimos na página 23, extraído de uma ilustração da obra de Basilio Valentin sobre o modo de fazer o ouro oculto dos filósofos, igualmente adotado por outros autores.
A Grande Obra dos alquimistas, e aquela que procuramos em nossos simbólicos trabalhos, apresentam, efetivamente, uma idêntica finalidade comum a todas as escolas iniciáticas, seja no significado místico da realização individual, como numa iluminada e bem dirigida ação social, que tem por objetivo o aprimoramento do meio e a elevação, o bem e o progresso efetivo da humanidade.

TEMPLÁRIOS E ROSA-CRUZES

As tradições herméticas orientais encontram no Ocidente, durante a Idade Média e o princípio da Idade Moderna, outros tantos canais para sua expressão nas muitas sociedades e ordens místicas e secretas, que se manifestaram aqui e acolá, ainda que aparentemente com diversa finalidade exterior, mas todas intimamente relacionadas com a Tradição Iniciática e ligadas interiormente pela afinidade de seus meios de manifestação e de uma identidade fundamental de orientação...
Entre estes movimentos, os dois mais conhecidos e que mais influenciaram a Maçonaria, são a Ordem do Templo, que teve seu apogeu e seu período de esplendor no século XIII, e a Fraternidade Rosa-Cruz que a influenciou especialmente no século XVII.
A Ordem dos Cavaleiros do Templo nasceu das Cruzadas e do contato estabelecido por ocasião destas, entre os cavaleiros vindos do Ocidente e as místicas comunidades orientais depositárias de tradições esotéricas. Como Ordem, foi fundada em 1118 por dois cavaleiros franceses, Hugues de Payens e Godefroid de St. Omer, com o fim de proteger os peregrinos que iam a Jerusalém depois da Primeira Cruzada.
Os cavaleiros faziam os três votos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, como as demais ordens religiosas, e a Ordem compreendia em si um corpo eclesiástico próprio, dependente direta e unicamente do Grão Mestre da Ordem e do Papa. Assim, os místicos segredos dos quais a Ordem se fez depositária, podiam ser guardados com toda a segurança.
O segredo dentro do qual eram desenvolvidos as cerimônias de recepção e se comunicavam os mistérios aos que se reputavam dignos e maduros para possuí-los, foi o pretexto das acusações de imoralidade e heresia que se fizeram à Ordem, sendo em realidade motivadas pela ignorância, o ciúme e a cobiça de sua imensa riqueza. Esta última foi principalmente a razão que levou a Felipe o Belo, rei da França no ano de 1307, a prender sem prévio aviso a todos os Templários, que foram torturados e julgados sumariamente pelo Tribunal da Inquisição, como preciso objetivo de acabar com a Ordem, cujo fim foi tragicamente selado em 1314 com a bárbara morte infligida a seu Grão Mestre Jacques de Molay, que foi queimado vivo diante da catedral de Notre Dame de Paris (quatro meses depois da abolição da Ordem ter sido decretada por obra do pontífice.
Também o movimento filosófico conhecido com o nome de Fraternitas Rosae-Crucis teve sua origem no contato do Ocidente com o Oriente, e com as secretas tradições que aqui puderam conservar-se mais livre e fielmente. Cristhian RosenKreutz, seu místico fundador, nasceu segundo a tradição da qual se fala na Fama Fraternitatis, em 1378, e ainda muito jovem viajou para Chipre, Arábia e Egito, aonde lhe foram revelados muitos importantes segredos que levou consigo para a Alemanha, aonde fundou a Fraternidade, destinada a reformar a Europa. Depois de sua morte foi sepultado secretamente numa tumba preparada expressamente para ele, que devia permanecer desconhecida para os membros da mesma Fraternidade, até que foi casualmente descoberta, lendo-se mesma a inscrição: Post CXX anos patebo.
Esta estória, assim como os segredos e maravilhas que se encontram na tumba, é evidentemente um simbolismo da Tradição Iniciática da Sabedoria, personificada pelo mesmo Cristian Rosenkreutz, que vem do Oriente para o Ocidente, e é conservada zelosamente em sua tumba hermética, onde a buscam e encontram seus adeptos, os fiéis buscadores da Verdade.
Quanto à influência destes dois movimentos sobre a Maçonaria, que é a que neste momento mais nos interessa, é certo que não somente muitas tradições templárias e rosa-cruzes encontram seu caminho em nossa Ordem, senão que também esta se fez a intérprete e natural herdeira de seus objetivos ideais e da Grande Obra que constitui o objeto de todas as diferentes tendências. Hermetistas, templários, rosa-cruzes e filósofos, sempre se confraternizaram com os maçons, e desta comunhão espiritual nasceu a Maçonaria conforme hoje a conhecemos.

ESPÍRITO, ALMA E CORPO

Podemos considerar estas fraternidades e movimentos, como a alma multiforme do Espírito Uno da Tradição Universal, que veio diretamente e sem interrupção até nós provindo dos antigos Mistérios. Assim, no que diz respeito a seu espírito iniciático como à tradição que a anima (e da qual é herdeira e continuadora), as origens de nossa Instituição não podem ser mais gloriosas, sendo nós, como Maçons, os herdeiros dos antigos Reis-Sacerdotes (simbolizados por Melchisedeck e Salomão) e dos Grandes Iniciados de todos os Tempos.
E no que se refere ao corpo no qual esta Alma tradicional encarnou - isto é, a forma que domina exteriormente nossa Instituição, que foi tomada particularmente da Arte de Construir -, nossas origens não são menos gloriosas, já que se relacionam diretamente com a fonte de toda civilização, como a causa se relaciona com o seu efeito natural.
Conhecemos, pelo estudo que temos feito nas páginas precedentes, algo de sua alma, que é tradição e Finalidade, comuns às diferentes ordens, escolas, movimentos, sociedades e comunidades que acabamos de examinar - uma Alma formada pelas mais elevadas aspirações humanas e expressada constantemente em termos de compreensão, tolerância e amor fraternal. Vejamos agora como também o corpo exterior da Instituição tem suas origens nos tempos da mais remota História e da pré-história humana, tendo deixado seus vestígios em todas as grandes obras e monumentos que até nós chegaram das épocas passadas.

A "ARS STRUCTORIA"

Entre todas as artes, a Arquitetura tem sido venerada e praticada em todos os tempos como uma arte especialmente Divina. Não devemos maravilhar-nos da especial consideração em que sempre foi tida, por estar a construção material intimamente relacionada com a forma exterior de toda civilização, da qual pode-se considerar ao mesmo tempo como causa, meio, condição necessária e expressão natural.
A casa representa o princípio da vida civil e não carece de razão sem dúvida, que a segunda letra do alfabeto hebraico (que constitui a inicial da palavra sagrada do Aprendiz) signifique exatamente "casa", derivando sua forma do hieróglifo simbólico da mesma. A Casa representa assim à primeira letra ou o princípio da civilização, enquanto sua interpretação esotérica em relação às demais letras da Palavra dá outro significado mais próprio para o Aprendiz, que estudaremos mais adiante.
Quando os homens tiveram casas ou abrigos protetores, e quando os muros das cidades constituíram para estas a base de sua segurança, foi quando puderam desenvolver as artes, as ciências e as instituições sociais.
Então, elevando-se a atenção e as aspirações dos homens, do reino dos efeitos para o das causas, ou da aparência exterior à realidade interior que nela se esconde e a anima, foi quando nasceu a idéia e sentiu-se a necessidade de construir um Templo, de levantar um edifício ou símbolo exterior do reconhecimento interior da Causa Transcendente, dos efeitos visíveis.
Esta aspiração interior constitui o princípio de toda iniciação, ou ingresso, numa forma superior de pensar, de ver e de considerar as coisas. Portanto, podemos dizer que a Maçonaria teve tanto moral como materialmente origem no primeiro Templo que se levantou em reconhecimento à Divindade, e que o primeiro maçom foi quem o levantou, apesar do rude e elementar que foi esse Templo primitivo, que bem pode ter consistido de uma única coluna, ou tronco de pedra ou de madeira, cuja tradição foi perdida em seguida nos obeliscos.

MAÇONARIA OPERATIVA E MAÇONARIA ESPECULATIVA

É evidente, pois, que o elemento espiritual (especulativo ou devocional) e o material (operativo ou construtivo) encontram-se intimamente unidos desde o momento em que o primeiro se concebeu e se realizou a idéia de um Templo, como símbolo exterior de um reconhecimento interior, e que a Maçonaria, surgiu espontaneamente desta idéia de levantar ou estabelecer um símbolo à Glória do Princípio ou Realidade interiormente reconhecidos, pois se os Maçons no sentido material foram "construtores" em geral, sempre tem sido mais particularmente os que tem elevação Templos para o espírito.
Tendo presentes estas considerações, não há nada de surpreendente na transformação da maçonaria operativa em especulativa, isto é, de como uma Instituição Moral e Filosófica tenha podido desenvolver-se sobre uma arte material, tomando o lugar das corporações medievais e continuando-as.
Ambos os elementos - operativo e especulativo - estiveram juntos desde o princípio, e isto evidencia-se no desenvolvimento cíclico que faz prevalecer, conforme os momentos históricos e as necessidades de uma época, uma ou outra tendência, um ou outro destes dois aspectos da nossa Instituição, tão inseparáveis como as duas colunas que dão acesso a nossos Templos.
Além de que constitui o selo de sua origem, a construção em geral e a de um templo em particular - prestou-se sempre e atualmente ainda se presta admiravelmente como símbolo interpretativo da atividade da Natureza, podendo-se considerar o Universo como uma Grande Obra, como um Templo e ao mesmo tempo uma Oficina de Construção, dirigida, inspirada e atualizada por um Princípio Geométrico, cujas diferentes manifestações são as leis naturais que o governam e as forças que, segundo estas leis, produzem diferentes efeitos visíveis.
Esta obra de construção pode o homem observá-la em si mesmo, em seu próprio organismo físico (muitas vezes comparado a um templo), assim como em sua íntima organização espiritual, no mundo interior de suas idéias, pensamentos, emoções e desejos. Todo homem vem a ser assim, um microcosmos ou "pequeno universo" e um Templo (análogo ao Grande Templo do Universo que constitui o Macrocosmos), individualmente erguido "a Glória" do Princípio Divino ou Espiritual que o anima.
Com esta Obra Universal que se desenvolve igualmente dentro e fora de nós, na qual todo ser participa geralmente de forma inconsciente com sua própria vida e atividade, o Maçom - ou seja o iniciado nos Mistérios da Construção - tem o privilégio e o dever de cooperar conscientemente, convertendo-se em obreiro inteligente e disciplinado do Grande Plano que constitui a evolução.
Assim, pois, a Ars Structoria é, para quem sabe interpretá-la e realizá-la, a verdadeira Ciência e Arte Real da Vida, o Divino privilégio dos iniciados que a praticam especulativa e operativamente; dois aspectos intimamente unidos e inseparáveis, ainda que possam manifestar-se de diferentes formas, conforme a evolução particular do indivíduo. E não há altura ou elevação do pensamento ou do plano da consciência individual que não possa ser interpretado, ou ao qual não possam utilmente aplicar-se as alegorias, os emblemas e os instrumentos simbólicos da Construção.

AS CORPORAÇÕES CONSTRUTORAS

Nenhuma atividade, arte ou obra importante pode ser o resultado dos esforços e da experiência de um indivíduo isolado. Por conseqüência, os primeiros construtores tiveram, necessariamente, que agrupar-se, fosse para a aprendizagem e o aperfeiçoamento, aonde a experiência dos demais pudesse ser aproveitada, fosse para o exercício e a prática regular da Arte, agregando-se cada um a outros membros como ajudantes ou aprendizes, que deveriam cooperar nas mais rudes tarefas sem entretanto conhecer os princípios e segredos, que se adquirem com o tempo, com o esforço e com a aplicação.
A divisão em Aprendizes, Companheiros e Mestres, teve de ser espontânea em qualquer grupo de obreiros com intenção construtiva, devendo-se distinguir os braçais e noviços, que não podiam dar mais que sua força, sua boa vontade e suas faculdades ainda indisciplinadas, dos obreiros, que já conheciam os princípios da arte e cuja atividade podia ser utilizada mais proveitosamente. Estes obreiros diferenciavam-se, por sua vez, daqueles outros consumados ou perfeitos que já dominavam esses princípios e estavam capacitados a executar qualquer obra, assim como, a dirigir a ensinar aos demais.
Como a unidade de uma tarefa sempre uma correspondente unidade de conceito e de direção, é óbvio também, que estas três categorias tiveram de manter-se fielmente disciplinadas (no duplo sentido intelectual e moral da palavra disciplina, isto é, tanto na teoria como na prática) sob uma Autoridade reconhecida como tal, por sua experiência e conhecimento superior, eleita ou proposta sobre eles, o Mago por excelência, ou Arquiteto, a cuja iniciativa e direta responsabilidade encomendava-se evidentemente a obra, um Mestre Venerável entre os Mestres da Arte, ao qual todos os demais deviam respeito e obediência.
Assim, toda a corporação construtora ou agrupamento de obreiros para um fim determinado deve ter-se constituído espontaneamente à semelhança de nossas Lojas, sendo ainda necessário além do Mestre Arquiteto, diretor da Obra, um ou dois Vigilantes que o Ajudaram e puderam substitui-lo em caso de necessidade, e outros membros que tiveram cargos e atribuições especiais, diferentes dos demais.
A primeira loja foi constituída, consequentemente, pelo primeiro grupo de construtores que uniram disciplinadamente seus esforços para alguma obra importante, ou para a realização de um Ideal comum. E como as regras morais são necessárias para a ordem, a disciplina e a eficiência em toda atividade material, é evidente que estas devem ter sido inseparáveis das normas e regras próprias da Arte. O conjunto destas normas e regras, que constituíam uma necessária disciplina para os que eram admitidos a tomar parte na Obra, ou como membros da corporação, formou a característica da Ordem, pois, sem ela não poderia ter existido nenhuma ordem verdadeira e a aceitação desta disciplina deve ter naturalmente sido exigida como condição preliminar para admissão na Ordem.

A "RELIGIÃO" DOS CONSTRUTORES

Nas especulações, cultos e tradições primitivas, tudo tende à unidade: poderes e atribuições que hoje se distinguem cuidadosamente como por exemplo o eclesiástico e o civil, o legislativo, e o judiciário, estavam ontem em mãos de uma mesma autoridade. Assim, o mundo antigo deu-nos o exemplo dos Reis-Sacerdotes que tomavam para si diferentes representações e poderes que hoje são consideradas inteiramente suprimidos.
Igualmente a Religião formava então parte da vida, e as instituições civis e religiosas entrelaçavam-se mutuamente, constituindo um conjunto quase inseparável. Por isso, nas primitivas corporações construtoras, o elemento religioso-moral deve ter sido considerado como formando uma unidade com o elemento artistico-operativo, desenvolvendo e transmitindo-se igualmente nestas corporações, os segredos da arte e certas especiais tradições religiosas.
Note-se, a este respeito, que a própria palavra religião identifica-se, em seu significado original, com a tradição, indicando simplesmente "o que é legado ou se transmite". Também nesse mesmo sentido, a Maçonaria é religião ainda que não uma religião: a religião operativa e especulativa, simbólica e iniciática, nascida espontaneamente nas primeiras corporações construtoras, à medida em que seus adeptos se esforçavam em divinizar sua Arte, convertendo-se em veículos e meios dos quais pode aproveitar-se a Hierarquia Oculta para seus ensinamentos, encontrando nesse meio em terreno particularmente fértil para semear a mística semente da Sabedoria.
Também o caráter particular das corporações que se especializaram na construção de Templos fez com que estas se identificassem, nas diferentes épocas da história, com distintas tradições religiosas, e em alguns casos com os próprios Mistérios (aos quais alguns entre eles devem ter sido admitidos como participantes), e não há como maravilhar-se se assimilaram muitos ensinamentos esotéricos, transmitidos como patrimônio secreto entre os mestres da Arte.
Fora da dúvida está que, em qualquer período da História, as corporações construtoras aparecem como possuidoras de segredos e alegorias, alguns dos quais provêm de uma época remotíssima, e outros representam antiquíssimas tradições revestidas de nomes e formas simbólicas mais recentes. Enquanto que, por outro lado, bem sabemos que todas tiveram regras e modalidades particulares para a dupla transmissão do segredo material da arte e de sua interpretação especulativa, assim como para a admissão de candidatos como aprendizes, exigindo-se serem "livre e de bons costumes", dando provas definidas de moralidade, diligência e capacidade para a obra.
Esta "religião dos construtores" teve de ser uma religião eminentemente moral, isto é, uma ética individual aplicada à vida, como é demonstrado pela Tradição Maçônica, que mais diretamente lhe dá continuidade.

O GRANDE ARQUITETO

O conceito de um Grande Arquiteto, ou Princípio Divino Inteligente que constitui o foco espiritual e a Base Imanente da Grande Obra da Construção particular e universal, tem representado sem dúvida, em todos os tempos, o fundamento da Religião dos Construtores.
Este mesmo conceito constitui o Princípio Cardinal da Maçonaria Moderna, pois não possuem valor maçônico os trabalhos que não forem feitos "a glória" deste Princípio, isto é, com o fim de que a espiritualidade latente em todo o ser e em toda a coisa, encontre por meio dos mesmos sua expressão ou manifestação mais perfeita.
Trata-se, sem dúvida, de um conceito iminentemente iniciático, isto é, no qual ingressamos progressiva e gradualmente à medida em que nossos olhos espirituais se abrem à luz maçônica. Assim pois, enquanto no princípio é dada a cada maçom a liberdade de interpretar esta expressão de Grande Arquiteto conforme suas particulares idéias filosóficas, opiniões e crenças (teístas e ateístas, considerando-se neste último caso o Grande Arquiteto como expressão abstrata da Lei Suprema do Universo), posteriormente, será conduzido gradualmente, por meio de seu próprio trabalho interior ou do esforço pessoal com o qual obtém todo progresso, a um reconhecimento mais perfeito, a uma realização mais íntima e profunda deste Princípio, ao mesmo tempo imanente e transcendente, que constitui a base e a essência íntima de tudo o que existe.
Ao redor desta idéia central (cujo caráter iniciático a diferença de todo conceito ou crença dogmática) tem-se agrupado, como em torno de seu centro natural, as diferentes tradições, símbolos e mistérios que constituem outras tantas aplicações e expressões do Princípio Fundamental à interpretação da vida e a seu aperfeiçoamento.
Desta maneira, sem impor opinião ou crença alguma, mas deixando a cada um a liberdade de interpretar esta expressão simbólica segundo sua particular educação e suas convicções todos são naturalmente conduzidos para uma mesma Verdade, esforçando-se em penetrar cada um mais interiormente, chegando ao fundo de sua própria visão e crença, que (como todas) tem de ser tolerada, respeitada e interpretada como um dos infinitos caminhos que conduzem à Verdade.

AS PRIMEIRAS CORPORAÇÕES

Esta digressão sobre um dos pontos fundamentais da Maçonaria, tem nos parecido necessária para mostrar o caráter iniciático, eclético e universal da Ordem em seus próprios conceitos e símbolos em aparência mais vulgares, mas que encerram em si um propósito e uma profunda doutrina.
Voltando ao nosso tema, sobre as origens maçônicas, resta-nos traçar sumariamente a história das corporações construtoras desde as primeiras civilizações até os nossos dias.
As pegadas das antigas corporações construtoras encontram-se em todos os povos que nos deixaram alguma notícia de sua experiência. Entre os mais antigos e importantes monumentos que restam de antigas civilizações, devemos ressaltar as pirâmides do Egito. A princípio, foram consideradas tumbas magníficas dos reis, mas um estudo mais atento tem revelado que se trata de monumentos simbólicos, nos quais e próximo aos quais, com toda probabilidade, desenvolveram-se ritos e cerimônias iniciáticas.
Isto parece particularmente certo com respeito à Grande Pirâmide, cujas medidas e proporções calculadas escrupulosamente tem sido reveladas em seus arquitetônicos conhecimentos geográficos, astronômicos e matemáticos, não menos exatos que os que se consideram exclusiva conquista dos nossos tempos. É suficiente dizer que a unidade de medida testa pirâmide, o côvado sagrado (que pode ser identificado com a régua maçônica de 24 polegadas) é exatamente a décima milionésima parte do raio polar terrestre, uma medida mais justa e mais exatamente determinada que o metro, base de nossos sistema. Seu perímetro revela um conhecimento perfeito da duração do ano; sua altura, a exata distância da Terra ao Sol, e o paralelo e o meridiano que se cruzam em sua base constituem o paralelo e o meridiano ideais, uma vez que atravessam a maior parte das terras. Por outro lado, a precisão com a qual estão cortados e dispostos os enormes blocos de pedra de que se compõem, daria muito o que pensar a um engenheiro moderno que quisesse imitar estas obras.
Apesar do Egito ter sempre sido considerado como a terra clássica da escravidão, já que realmente em épocas posteriores os obreiros dirigidos pelos sacerdotes não tinham nenhuma liberdade ou iniciativa, muito difícil admitir que uma obra como a Grande Pirâmide - obra caracteristicamente maçônica - tenha sido outra coisa que a Obra Mestra da mais sábia e celebrada corporação construtora de todos os tempos. Além disso, é possível que nossa Era Maçônica (que começa no ano 4000 A. C. e que vem de antigas tradições) date precisamente da construção da Grande Pirâmide, que alguns, entretanto, consideram mais recente em quanto outros, por sua vez, julgam mais antiga.
Outra importante construção da antigüidade, além dos templos cujos traços se encontram esparsos pela Terra, parece ter sido a Torre de Babel, de bíblica memória, diferenciando-se esta construção da precedente pelo emprego de tijolos em lugar de pedras cortadas, e de outro material em vez de cal. O mito da confusão das línguas antes da conclusão da obra, e da conseqüente dispersão das corporações de construtores que se reuniram para executá-la, dá muito o que pensar ao estudante das tradições antigas.

OS CONSTRUTORES FENÍCIOS

Em épocas mais recentes (cerca de 1000 anos A. C.), encontramos as corporações e a obra de Construtores Fenícios em todos os países do Mediterrâneo nos quais este povo estabeleceu suas colônias e a influência de sua civilização.
Estas corporações viajavam, evidentemente, de um país a outro conforme delas se necessitava e solicitado era o seu concurso, erguendo com igual habilidade e facilidade templos e santuários para os diferentes cultos e mistérios, ainda que sempre erigidos conforme o mesmo tipo fundamental, que revela, nas obras das idênticas corporações ou de corporações afins, uma mesma identidade de conceitos.
Podemos considerar como um exemplo típico (e como obra simbolicamente mestra dos construtores fenícios) o Templo de Jerusalém, erigido na época indicada no livro das Crônicas (cerca de 1000 anos A. C.) pelos obreiros que Hiram, rei de Tiro, enviou a Salomão para este efeito, construção sobre a qual é baseada nossa atual tradição maçônica.

CONSTRUTORES GREGOS E ROMANOS

Na Grécia, as corporações formaram-se, sem dúvida, à influência e semelhança das fenícias, e dedicaram-se especialmente à construção de templos, tomando o nome de dionisíacas, relacionando-se evidentemente com os Mistérios homônimos em honra a Iaco ou Zéus Nisio.
A arquitetura grega, caracterizada pelo uso da arquitrave (em vez do arco empregado posteriormente pelos romanos), tem, por sua singeleza hierática, muita analogia com a egípcia, da qual se diferencia pela graça e a esbelteza que substituem à poderosa majestade daquela. Seus três estilos, dórico, jônico e coríntio, que se distinguem pela forma dos capitéis e das decorações que os acompanham, são caracteristicamente emblemáticos dos três graus maçônicos. E a Maçonaria Simbólica pode muito bem comparar-se, alegoricamente, à Arquitetura Grega, correspondendo perfeitamente suas três câmaras às três ordens fundamentais desta.
Á semelhança de ditas corporações de obreiros dionisíacos, Numa Pompílio, o rei iniciado de Roma, instituiu, segundo a tradição, os collegia fabrorum que, como nos precedentes, tinham seus próprios mistérios e guardavam e transmitiam com os segredos da Artes, certos segredos e tradições de natureza religiosa. Como as Lojas Maçônicas, estavam dirigidos por um triângulo (como é testemunhado pela clássica expressão três faciunt collegium, formados por um Magister e dois Decuriões, compreendendo três graus análogos aos atuais, usando uma especial interpretação emblemática de seus instrumentos.
Estes colégios estenderam-se depois por todo o império, percorrendo como forças construtoras o caminho das legiões e levantando, onde quer que fossem, aqueles monumentos e edifícios dos quais ainda restam múltiplos vestígios.
Já no século primeiro antes de Cristo, várias destas corporações passaram a estabelecer-se na Gália, Alemanha e Inglaterra, onde construíram especialmente campos atrincheirados que depois se converteram em cidades (o termo inglês chester, dos nomes de muitas localidades revela de forma clara sua origem latina, de castrum, "acampamento").

AS CORPORAÇÕES MEDIEVAIS

Com o triunfo do Cristianismo, que se converteu em religião oficial durante o último período do Império Romano, enquanto os Mistérios tiveram de desaparecer, os collegia fabrorum resolveram adaptar suas tradições pagãs à nova fé, e isto foi feito muito habilmente, substituindo-se pela lenda da construção do Templo de Salomão outra transmitida anteriormente, e pelos nomes de santos e personagens cristãos os antigos deuses pagãos. Nasceu assim um São Dionísio, em lugar do homônimo deus grego (o Baco dos latinos), e São João foi honrado como protetor da Ordem, em lugar do antigo deus bifronte Janus.
Assim renovada, a tradição dos antigos colégios romanos seguiu no Oriente a sorte do Império Bizantino, adaptando-se depois, com igual facilidade, à fé islâmica, enquanto no ocidente, com a queda do Império e a invasão dos vândalos e dos godos, encontrou um asilo seguro numa pequena ilha, perto da cidade italiana de Como, na Lombardia (país assim denominado em conseqüência da invasão longobardos, "os de longa barbas", de onde tomaram seu nome os magistri comacini, que deram origem àquele estilo proveniente do romano, chamado românico, que fez sua primeira aparição por volta do ano 600 e continuou dominando por vários séculos depois o estilo na Itália e nos países contínuos, até que o estilo gótico, produzido pelas corporações nórdicas, obteve depois o predomínio.
Nas obras destes artistas encontramos vários símbolos maçônicos, e a expressão de uma singular independência do pensamento que é revelada pelas curiosas e mordazes sátiras contra o Igreja, gravadas com uma audácia surpreendente nas próprias esculturas das catedrais. Apesar do hermético segredo com que guardavam suas tradições e crenças, parece que estas corporações (que existiam em várias cidades da Itália, entre outras em Siena, desde o século XI) não era estranho o conhecimento de um G. A. D. U., nem a lenda de Hiram.
No fervor religioso que caracterizou este período, algumas ordens monásticas da Igreja também se dedicaram, especialmente na França e na Alemanha, à Arte de Construir, levantando templos com a ajuda dos obreiros nômades que encontravam, contribuindo assim, indiretamente, para a organização destes em corporações que depois tornaram-se independentes. 
Por obra e esforço das corporações independentes que se formavam em diversos países, nasceu então, e rapidamente se afirmou, o chamado estilo gótico, que converte o simples arco romano e românico em ogival, magnífico símbolo do fervor religioso e das mais ardentes aspirações humanas que se levantam, como cântico majestoso, da terra ao céu. Nos dois estilos orientais, árabe e russo, encontramos um desenvolvimento ulterior desta idéia que fez evoluir o arco gótico do romano, com a curvatura especial que caracteriza estes estilos.
Estas corporações dedicadas especialmente à arte gótica, constituíram na Inglaterra os guilds de obreiros; na França o compagnonnage (dos quais existiam três seções diferentes que tomavam o nome, respectivamente, de filhos de Salomão, de Mestre Jacques e de Mestre Soubise) e na Alemanha as oficinas e uniões de canteiros (Steinmtzen), entre as quais tomou justo renome aquela que levantou a Catedral de Estrasburgo, erigida no século XV.
Os documentos que delas nos chegam, provam que os obreiros achavam-se divididos em aprendizes, companheiros e mestres, que se reuniam em pequenas casas e empregavam de uma maneira emblemática os instrumentos de sua profissão, levando-se consigo como insígnias. Além disso, reconheciam-se por meio de palavras e sinais que chamavam saudações. Os neófitos eram recebidos com particulares cerimônias e juravam o mais profundo segredo sobre o que ia ser-lhes comunicado e ensinado. 
A palavra maçom (do latim medieval "macio", equivalente de canteiro, de onde teve origem igualmente o termo alemão Metzen) parece que foi usada pela primeira vez no século XIII, sendo exportada da França para a Inglaterra. A expressão franco maçom (maçom franqueado ou livre de impostos) aparece por primeira vez em 1375.
A origem desta última palavra tem sido relacionada aos privilégios especiais e isenções concedidas pelos pontífices Nicolas III e Benito XII, em vista da reconhecida moralidade destas corporações e das obras piedosas a que elas se dedicavam como construtoras de igrejas. Mas o real significado originário deste atributo de francos ou livres (em inglês "freemasons") é um assunto todavia discutido e discutível.

OS MAÇONS "ACEITOS"

Debilitando-se depois, no século XVII, com o renascimento clássico e a corrupção da Igreja (que ocasionou a reforma e as novas teorias filosóficas), o fervor religioso dos séculos passados, a arte sagrada teve necessariamente que decair, e com ela as corporações de maçons operativos que desta atividade extraiam sua razão de ser sua subsistência.
Mas aqui e ali, e especialmente na Inglaterra, algumas delas subsistiram, se bem que de forma muito reduzida, passando natural e gradualmente da atividade construtiva que ocasionou sua formação, até se ocupar exclusivamente dos assuntos que antes eram para eles de secundária importância, como por exemplo o estudo e a beneficência.
Sem dúvida contribuiu notavelmente para esta nova orientação de atividade das lojas a admissão que foi feita desde então, sempre mais liberal e numerosa (conforme ia decrescendo seu valor como associações profissionais) de maçons aceitos (accepted freemasons), isto é, membros honorários que nunca tinham exercido uma profissão relacionada com a arte de construir.
Os novos associados, muitas vezes homens de estudo e filósofos eminentes, influíram largamente nestes agrupamentos de antigos construtores, os quais chegaram facilmente a dirigir. Foi assim que as lojas maçônicas profissionais transformaram-se naturalmente em lojas de maçonaria especulativa, nascendo dessa maneira a Maçonaria como atualmente conhecemos. E assim também, muitas doutrinas e tradições iniciáticas e místicas, de diferente origem ou descendência, passaram a incorporar-se à nascente, ou melhor dizendo, renascente instituição. As tradições templárias e rosa-cruzes, em especial, tiveram parte importante nesta transformação. Enquanto as lojas Maçônicas encontravam naquelas doutrinas, a alma que lhes infundia uma vida nova, estas encontraram naquelas o corpo, o veículo ou o meio exterior mais conveniente à sua expressão, o que de outra forma poderia ocorrer de modo estéril e deficiente.
Com o século XVII termina assim o estudo das origens maçônicas; desde o XVIII começa a sua história como instituição moderna preparando-se o futuro, temas dos quais falaremos nos dois "Manuais" que se seguem, desta mesma série. 
A "Loja de São João"
O problema das origens maçônicas acha-se delineado e resolvido sinteticamente em poucas palavras na pergunta ritual do Ven. Mestre a todo irmão visitante: De onde vens?, e na resposta deste: De uma Loja de S. J. justa e perfeita.
Esta pergunta é fundamental para o Aprendiz e, à semelhança de Édipo, deve esforçar-se em respondê-la satisfatoriamente, buscando em si mesmo a solução do problema das origens: a origem de seu ser e do universo que o rodeia.
Que representa, pois, para os maçons a expressão "Loja de S. J." ?
Já sabemos que a Tradição Maçônica guarda uma relação profundamente íntima com a Tradição Joanita ou mística do Cristianismo (como é claramente demonstrado pela superposição de nossos instrumentos sobre a primeira página do Evangelho de S. J., que representa a Tradição Cristã mais pura, assim como as Tradições Gnósticas e iniciáticas anteriores).
Igualmente sabemos que S. J. foi tomado como patrono pelas Corporações Construtoras da Idade Média, e conhecemos também, o uso - que remonta a uma época remotíssima - de festejar os dois solstícios, cujas datas coincidem respectivamente com as festas cristãs de S. J.
Estas mesmas festas celebravam-se também antes do cristianismo, sendo, em época próxima aos romanos, em honra a Janus, o deus de duas faces que muito bem simboliza a Tradição, estando uma das faces constantemente voltada ao passado e outra ao futuro. Este nome relaciona-se etimologicamente com o latim janua, "porta", de onde vem igualmente o latim januarius, "janeiro". (4) É interessante notar a este respeito que "porta" é também o significado originário da letra grega delta (do semítico daleth), representa por um triângulo, e que a antiga porta das iniciações, era triangular.
Este deus presidia todos os inícios (em latim initium, de onde também initiare, "iniciar") e, em particular, o do ingresso do Sol nos dois hemisférios celestes, e a própria iniciação cuja chave possuía e guardava. Agora, é evidente que o nome Janus tem também em sua forma latina, uma semelhança singular com João (Johannes) e não foi por acaso que este último foi colocado no exato lugar do primeiro.
Por outro lado, o hebraico Jeho-hannam ou João significa "Graça ou favor de Deus", isto é, homem iluminado ou iniciado. Assim é que a justo título pode este último ser chamado irmão ou discípulo de S. J.. A importância iniciática desta escolha tornar-se mais evidente por esta dupla ou bifronte etimologia: a primeira pagã ou voltada ao passado (tradição iniciática da qual constitui a porta ou passagem, e a outra, cristã ou voltada para o futuro (os eleitos ou favorecidos de Deus que continuam e darão prosseguimento à tradição por todos os séculos).
A expressão Loja de S. J. vem a ser assim, um nome simbólico de toda união ou agrupamento de iniciados, de homens iluminados e favorecidos espiritualmente, aplicando-se, em sua acepção mais geral, a todos os que são admitidos nos Mistérios e mais particularmente aos verdadeiros II S. J., os Mestres da Sabedoria que constituem a Grande Loja Branca, a mais justa e perfeita "Loja de S. J.", na qual devemos buscar a inspiração e a origem profunda e verdadeira de nossa Ordem.
Notas Explicativas:
1.- Falando em linguagem geológica, aquelas que remontam ao princípio da era quaternária ou talvez ao próprio período terciário.
2.- Confronte-se com o que foi dito por Jesus: "Minhas palavras são espírito e vida".
3.- O documento chama-se "Leyland-Loche Ms." e sua data remonta a de 1436, estando escrito em inglês arcaico daquela época. Referindo-se à Maçonaria, responde à seguinte pergunta: De onde veio? Informando que começou "com os primeiros homens do Leste, que foram antes dos primeiros do Oeste", sendo transmitida ao Ocidente pelos venezianos. Depois do que, segue literalmente:
"How comede ytt Engelonde? "Peter Gower, a Grecian journeyed for kunnynge yn Egypte and yn Syria, and yn everyche lande whereat the Venetians hadde plauntede Maconrye, and wynnynge entrance yn al Lodge of Maçonnes, he learned muche, and worked yn Grecia Magna wachsynge and becommynge a myghitye wysacre and gratelyche renowned, and here heaframed a grate lodge at Groton, and maked many Maconnes, some whereoffe dyd journeye yn France, and maked many Maconnes wherefromme, yn process of tyme, the arte passed yn Engelonde.
É evidente que Peter Gower, Venetians e Groton, são alterações fonéticas, de Pitágoras, Fenícios (em inglês Phoenicians) e Grotônios. Assim é que conforme esta tradição, a Maçonaria, estabelecida primitivamente pelos Fenícios em todas suas colônias - e isto concorda perfeitamente com a origem fenícia do arquiteto Hiram do Templo de Salomão - chegou por intermédio da Grécia à Itália, onde, no tempo das conquistas romanas, franqueou seu caminho nos demais países da Europa Ocidental.
4.- Embora, possivelmente, a origem mais provável da palavra Janus deva ser relacionada a um hipotético Dianus (masculino de "Diana"), análogo a divinus no sentido "celestial", ou Divindade Celeste.
ANDREIA CAETANO PIUMHI/MG

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