quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Juramento Ou Compromisso?

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Juramento Ou Compromisso?



Ir.. Frederico Guilherme Costa 
Nos chamados Ritos Teístas, o juramento substitui o compromisso adotado pela Maçonaria Moderna.
Esta prática de "jurar" vem dos antigos maçons medievais e o juramento conservado na maioria dos Ritos Contemporâneos, tem permitido um constante ataque à Instituição. Apesar das variantes, permanecem as ameaças e críticas a este sistema teológico.
Na segunda edição de 173O da Masonry Dissected, de Samuel Pichard, temos:
"Prometo e juro solenemente aqui e na, presença de Deus Todo Poderoso e diante desta respeitável Assembléia a qual reverencio, que manterei oculto e não revelarei os segredos dos maçons nem da Maçonaria que me serão revelados, a não ser que seja para um verdadeiro e leal Irmão, depois da devida comprovação ou em Loja Justa e Perfeita, na qual reúnem-se os Irmãos e Companheiros".
Ademais prometo não escrever, imprimir, gravar, etc. sobre madeira ou pedra, de tal maneira que qualquer vestígio de uma letra possa aparecer, permitindo que o segredo seja revelado de forma ilícita.
Tudo isto sob pena de ser degolado, minha língua arrancada, meu coração extirpado pelo lado esquerdo para depois ser enterrado nas areias do mar, a determinada distância da praia, quando a maré efetue seu fluxo e refluxo duas vezes em 24 horas; que meu corpo seja reduzido a cinzas e espalhadas sobre a face da terra, de tal modo que não reste a menor lembrança minha, entre os maçons. Que Deus me ajude." (1)
Esta forma teatral tinha por finalidade gravar no inconsciente do candidato as suas responsabilidades e deveres, numa época em que a prática civil e criminal assim o estabelecia.
Na introdução ao nosso trabalho "Maçonaria - Um Estudo da sua História", afirmamos:
"Na realidade esta fórmula de Juramento era exigida pelo Direito Inglês, pelos idos dos séculos XVII e XVIII. O perjúrio deveria ter queimadas as entranhas atiradas ao mar, etc". (2) O próprio Anderson, na segunda edição das Constituições - 1738 - esclareceu o propósito das ameaças, deixando claro que a solenidade do juramento nada acrescentava à obrigação, ou seja, o juramento obrigava por si só, existisse ou não a penalidade. (3)
Fica claro que o segredo e o juramento remontam à Maçonaria Operativa, acorde com os costumes profanos da época, atitude esta continuada em 1717.
Quando juramos estamos invocando a divindade como testemunha. Este juramento pode ser assertivo quando procura atestar a veracidade de Uma declaração, ou promissório, quando atesta que alguém cumprirá uma promessa.
Parece ser um antigo costume adotado pela Maçonaria teísta jurar com o mão levantada
Levanto minha mão ao Senhor Deus Altíssimo, Senhor do Céu e da Terra". (4)

Introduzir-vos-ei na terra que com mão levantada, jurei dar a Abraão, a lsaac e a Jacó e vo-la darei em possessão hereditária. Eu, o Senhor".(5)
"Na verdade ao céu levanto a minha mão e digo: "Eu vivo eternamente!"(6)
Felizmente não adotamos o juramento solene prestado com a mão do promitente sobre os órgãos genitais do outro, considerando a fonte da vida, um objeto sagrado:

"Disse Abraão ao servo mais antigo de sua casa, o administrador de todos os seus bens" Põe, te rogo, a tua mão debaixo da minha coxa, e jura-me pelo Senhor, Deus do céu e da terra..." (7)
"Sentindo Israel avizinhar-se-lhe o tempo de morrer, chamou a si o seu filho José e disse-lhe: Se encontrei favor aos teus olhos, põe a tua mão debaixo da minha coxa, e promete usar comigo de benevolência e fidelidade; por favor, não me sepultes no Egito".(8)
Em Mateus, finalmente, é possível encontrar a idéia de que numa sociedade regenerada não há lugar para juramentos, pois a palavra de um homem é suficiente, e eu diria: principalmente a de um livre pensador moral ilibada e de bons costumes.
Atestando Mateus:
"Ouvistes mais que foi dito (aos antigos.- Não jures falso, mas cumpre os juramentos feitos ao Senhor Eu, porém digo-vos que não jureis de modo nenhum, nem pelo céu, que é o trono de Deus, nem pela Terra, que é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém que é a cidade do Suíno Rei. Nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar branco ou preto um só cabelo. Seja, pois, o vosso falar.Sim, sim, não, não, porque tudo o que passa disto procede do maligno. " 9

Portanto, se o próprio livro da Lei Maçônica nos apresenta uma interpretação clara sobre a impropriedade do juramento, por que não adotar, plenamente, o compromisso como recomenda a Maçonaria Moderna?
Parece-nos, infelizmente, que a opinião dominante situa-se na direção oposta a esta recomendação. Vejamos um exemplo:
Compromisso e, a promessa recíproca, o ajuste, o acordo, o contrato, o regulamento de, uma confraria Algumas obediências e Ritos Maçônicos costumam substituir a palavra juramento por compromisso, nos trabalhos de, Loja ou da Obediência Não procede, todavia tal alteração, pois juramento é, unilateral enquanto que compromisso envolve reciprocidade; quando um candidato faz o seu juramento está, aceitando deveres para com a Ordem não existindo a recíproca (10)
Justamente por entender que a promessa recíproca existe entre o recipiendário e - a Ordem - a Luz em troca do serviço desinteressado - é que a Maçonaria Moderna concorda com o pressuposto evangélico de que a palavra de um homem é suficiente.
Mas contundente ainda são os argumentos éticos a favor do compromisso no lugar do juramento, pois a idéia de comprometer se liga ao conceito existencialista de filosofia. Pode ser aplicado em um sentido amplo, como fundamento de toda existência humana e, igualmente, num sentido mais estrito, corno elemento fundamental do filósofo.
Estes dois conceitos estão interligados, pois não podemos dissociar o interesse do filósofo da existência humana
Comprometer-se filosófica ou maçonicamente, pois somos filósofos, na medida em que amamos a sabedoria, significa vincular intimamente a teoria com a prática: glorificando o trabalho com o desbaste da pedra bruta.
Recusar assumir o compromisso significa opor-se ao solicitado, recusando-se, portanto, a aceitar o ajuste, o polimento da mesma pedra.
Nenhum maçom deve, enquanto tal, se comprometer, a menos que tenha compreendido a totalidade das proposições.
Apenas a título de exemplo histórico devemos nos lembrar de que a Constituição dos Estados Unidos nasceu do Grande Compromisso da Convenção de Filadélfia, e não de um juramento prestado por seus notáveis ideólogos, e ninguém duvida de que a América era uma terra de virtuosos protestantes.
Fundamentalmente o compromisso deve ser entendido, racionalmente, como um consentimento, uma troca de concessões entre as partes, ou seja, um acordo. Eu me comprometo a servir pela minha tenure (11) pa com a Ordem em troca da Luz, da Iniciação Maçônica.
Está em questão, portanto, este controvertido aspecto da Arte Real. A palavra final é sua.
NOTAS
1. RICHARD, S. Masonry Fissected, being an universal and genuine description of all its Branches, from the Original to the present time as it delivered in the constituted regular Lodges, both in City and Country London, Byfield and Haw Keswith, 1730, pág 12 In: Benimelli Masoneria, Iglesia e Ilustracion Vol 1, págs. 63/64 Fundacion Universitária Española Madrid, 1982.
2. COSTA, Frederico Maçonaria - Um Estudo de sua História Ed. Maçônica Trolha Londrina - Pr 1990.
3. MELLOR Alec Citado por Benimelli, op. cit., pág 67.
4. Gênesis, XlV, 22.
5. Êxodo VI, 8.
6. Deuteronômio, XXXII 40.
7. Gênesis, XIV 2, 3.
8. Gênesis, XLVII, 29.
9. Mateus V. 33, 34, 35, 36 e 37.
IO. CASTELLANI, J. Dicionário Etimológico pág 125. Editora "Trolha". Londrina - Pr 1990
11. Dependência. "Influência dos Antigos Símbolos na Maçonaria Atual"

O PRUMO - Nº 98
BIBLIOGRAFIA
BENIMELLI, J. A. Ferrer. Masoneria, Iglesia e Ilustracion Fundacion Universitária Española, Madrid, 1982.
BíBLIA SAGRADA - Edições Paulinas SP, 1969.
CASTELLANI, J. Dicionário Etimológico Maçônico. Editora Maçônica "A Trolha" Londrina, PR, 1990.
COSTA, Frederico Guilherme. Maçonaria - um Estudo da sua História. Editora Maçônica "A Trolha'', Londrina - PR, 1990.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS Dicionário de Ciências Sociais. Editora da Fundação Getúlio Var- no de Janeiro, 1986.
MORA, José Ferrater. Diccionario de Filosofia. Alianza Editorial. Barcelona, 1984.


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