Sobre Algumas Aparições do Diabo na Maçonaria Relatada em Alguns Jornais da França
Três incidentes que em seu tempo foram dados a conhecer amplamente, pelos jornais. O último foi referido pelo “Blackwood Magazine” e reproduzido pela “Pall Mall Gazette”, sob o título “Uma aparição autêntica de Satan”. Eis o texto. Do livro de Mons. León Meurin S.J., arcebispo de Port-Louis, Filosofia da Maçonaria: O quadro apresentado pela autoridade maçônica se mostra em completo acordo com a forma como Satanás se revelou em numerosas ocasiões aos olhos dos homens. Não é este o lugar para tratar de tão importante questão; bastar-nos-á desdobrar em benefício daqueles que não os conheçam, três incidentes que em seu tempo foram dados a conhecer amplamente, pelos jornais. O último foi referido pelo “Blackwood Magazine” e reproduzido pela “Pall Mall Gazette”, sob o título “Uma aparição autêntica de Satan”. Eis o texto. “Sob o título de ‘Aut Diabolus aut Nihil, história verídica de uma alucinação’, conta o ‘Blackwood’ como alguns espiritistas de Paris invocaram o diabo em uma reunião. O autor do relato o qualifica de ‘história verídica de uma entrevista com o diabo’, que teve lugar em Paris há alguns anos. Relato autêntico em todos os seus extremos, coisa essa fácil de comprovar, dirigindo-se às diversas pessoas que tomaram parte nos fatos em questão.” “E acrescenta: ‘Não podemos dar a nossos leitores a chave do mistério, porque não acreditamos em nenhuma das doutrinas espiritistas; mas o certo é que chegou a dar-se uma aparição autêntica, nas circunstâncias que se indicam. Este é o fato; e deixamos para mais profundos psicólogos o cuidado de dar a tal mistério um mistério uma explicação satisfatória.” “Os principais personagens cujos nomes são conhecidos eram um príncipe russo, Pomerantseff, e um sacerdote francês o Abbé Girod, que zombava de todas as teorias de aparições. Numa ceia, havida em casa do duque de Frontignan, a conversação veio a recair no espiritismo, e o duque afirmou ter visto o ‘Espírito do Amor’. O abade, céptico, acabava de pronunciar um grande sermão onde demonstrava a existência de um demônio individual; e zombava do duque, quando o príncipe afirmou que a declaração do duque não para ser vista como piada nem para assombrar os ouvintes já que ele mesmo, o príncipe, conhecia o diabo por o ter visto. ‘Vos digo, insistiu, que vi o deus do mal, o príncipe da desolação, e o que é mais, posso conseguir que outros o vejam; inclusive o Sr. Mesmo, senhor abade’”. “Este recusou a princípio levando o caso em brincadeira, mas depois atormentado pela insistência, aceitou.” “Foram tomadas as providências pertinentes. Naquela mesma noite o Abbé Girod, segundo o combinado, deveria encontrar-se às nove horas e meia em presença do príncipe das trevas. E tudo isto acontecia em Paris a ‘cidade – luz’, capital do mundo civilizado!...” “Às nove e meia em ponto Pomerantseff chegou ao ponto marcado. Estava em traje de noite, mas sem qualquer espécie de adorno. Apresentava uma palidez mortal. Entraram no coche e o cocheiro, que sem dúvida havia sido instruído anteriormente acerca do lugar de seu destino, afrouxou imediatamente a rédea aos cavalos. Pomerantseff baixou os cortinados e tirando do bolso um lenço de seda, enrolou-o até reduzi-lo a uma fita estreita.” “-Agora tenho que vendar os olhos, meu caro – disse tranqüilamente.” “-Diacho! – exclamou o abade que malgrado seu estava ficando nervoso -. Isso me é desgradável. Sempre gosto de ver para onde vou.” “O coche prosseguia seu caminho.” “-Falta muito para chegarmos? – perguntou o abade.” “-Já estamos perto – respondeu o príncipe com uma voz que pareceu ao abade sepulcral.” “Ao cabo de meia hora pouco mais ou menos de corrida, Pomerantseff disse em voz alta:” “-Já chegamos!” “O coche virou e o abade escutou o chocar-se de cascos ferrados contra o empedrado de um pátio. Depois o veículo se deteve. Pomerantseff abriu por si mesmo a portinhola e ajudou o abade que continuava com os olhos tapados a descer.” “-Há cinco degraus – disse -, tenha cuidado.” “Atravessaram um pátio, subiram uma escada, cruzaram um vestíbulo e Pomerantseff abriu uma porta que voltou a fechar com chave. Segyiram andando. Voltou a abrir outra porta, voltou a fecha-la igualmente com chave, e o abade ouvou o correr de uma grossa cortina. Pomerantseff pegou o braço do abade, o fez dar alguns passos e lhe disse baixinho:” “-Fique onde está e não faça nenhum barulho. Confio em sua palavra de que não tirará a venda dos olhos até que ouça vozes.” “O abade permaneceu silencioso, de braços cruzados. Ouviu Pomerantseff que se retirava, e depois repentinamente cessou todo o barulho. O infeliz sacerdote percebeu que o local onde se encontrava não estava escuro, pois embora nada pudesse ver cria estar rodeado por uma claridade forte: sentia como que uma carícia de luz em suas mãos e faces.” “Subitamente um ruído agudo o fez sentir um calafrio por todo o seu ser; era como o arrastar de uma cadeira pesada sobre o chão encerado. E antes que pudesse refazer-se desta primeira sensação de terror, escutou a voz de vários homens, que pareciam submersos num profundo êxtase. Estas vozes diziam:” “-Pai e criador de todo o pecado e de todo o crime: príncipe e rei de toda angústia e de todo desespero, vem a nós!” “O abade, a essa altura bastante assustado, arrancou o lenço que lhe cobria os olhos. Se encontrou num grande salão, mobiliado ao estilo antigo, com tabiques de carvalho. A peça estava iluminada por inumeráveis círios, colocados em candelabros. Esta luz é naturalmente suave parecia cruel em razão de sua intensidade.” “Tudo isto ele apreciou instantaneamente, pois logo que pôde enxergar sua atenção se concentrou no grupo de homens.” “Eram doze – Pomerantseff também se encontra entre eles – e suas idades, segundo o sacerdote podia julgar, oscilavam entre os vinte e cinco e os cinqüenta e cinco anos. Todos eles pareciam encontrar-se num mundo melhor naquele momento. Estavam de joelhos sobre o solo, as mãos unidas. Seus rostos, iluminados por um êxtase infernal, estavam metade contraídos como se sofressem e metade sorridente como se experimentassem um gozo triunfal.” “Instintivamente o abade procurou com os olhos a Pomerantseff. Era o último da esquerda e enquanto com a mão deste lado apertava a direita de seu vizinho, com a outra acariciava o piso encerado, como se tentasse anima-lo a algo (*). Sua figura parecia menos agitada que as dos outros, embora se achasse possuído de mortal lividez e os tons violáceos de sua boca e bochechas, anunciassem uma dolorosa emoção.” “Todos a uma entoavam uma espécie de litania extática.” “-Oh, Pai do mal, vem a nós!” “-Oh, Príncipe da desolação infinita, que presides a cabeceira da sujidade: te adoramos!” “-Oh, Criador da angústia eterna!” “-Oh, Rei dos prazeres cruéis e dos desejos famélicos: nós te veneramos!” “-Vem a nós, pisando sobre os corações das viúvas!” “-Vem a nós, com os cabelos manchados de sangue inocente!” “-Vem a nós, com a fronte cingida pela sonora grinalda da dor!” “-Vem a nós!” “O abade sentiu seu coração apertado por uma angústia glacial diante da visão daqueles seres humanos, transfigurados pelo esforço mental, prosternados. O ar, carregado de eletricidade, parecia povoado por inumeráveis sons.” “A temperatura baixou repentina e intensamente, e o sacerdote percebeu a presença de um recém chegado ao aposento. Afastando os olhos do grupo de homens ajoelhados, que não pareciam dar a mínima atenção a ele, Girod passeou pelo ambiente seu olhar até que encontrou o recém chegado, que completava o número de ‘treze’ dos reunidos (excetuando naturalmente que a rigor não fazia parte da reunião), que parecia ter chegado pelos ares e se materializado diante de seus olhos.” “Era um homem jovem, não aparentando muito mais que vinte anos, imberbe como um adolescente. Seus longos cabelos louros caiam sobre seus ombros, como os de uma garota. Estava também vestido para recepção. Suas faces tinham um matiz rosado, como animadas pela embriagues ou prazer, mas seu olhar era de uma ‘tristeza’ infinita, de um ‘desespero’ indizível. Os doze homens, sem dúvida alguma conscientes de sua presença, submergiram numa ainda mais profunda adoração. Às invocações sucederam-se as orações e louvores. O abade se sentiu progressivamente possuído de um terror mortal. Seus olhos não podiam desviar-se do ‘décimo terceiro’, que se mantinha de pé tranqüilamente, com um vago sorriso errando por seus lábios; sorriso este que parecia tornar ainda mais profundo o desespero refletido em seus olhos azuis.” “Girod se sentiu surpreendido pela beleza daquela figura, por sua tristeza e depois, pelo vigor intelectual que a carcterizava. A expressão não era propriamente de maldade, embora fosse fria; os lábios e a fronte denotavam orgulho e altivez, mas a perfeita simetria e proporções do rosto denotavam flexibilidade e força de vontade. Todo o restante só fazia ressaltar a tristeza do seu olhar.” “Seus olhos se fixaram nos do abade, e Girod sentiu a influência sutil que penetrou nele por todos os seus poros. O terrível Décimo Terceiro só olhava para o sacerdote, enquanto os doze homens se entregavam a uma ‘oração’ cada vez mais selvagem, blasfema e cruel.” “O abade não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a figura que se erguia diante dele, e na tristeza que o envolvia. Não conseguiu formular uma oração embora pensasse nisso. Sera talvez porque o magnetizava o desespero que se refletia naqueles olhos azuis? Sera o desespero ou a morte? Mas a sensação era violenta e apaixonada, sem ter nada em comum com a serenidade da morte.” “A influência dos olhos azuis, fixos sobre o abade, se fazia cada vez mais forte e o pobre sacerdote se sentia como que inundado de uma voluptuosidade terrível. Era como um êxtase de dor, que se convertia em prazer, o êxtase de alguém a quem se tivesse negado toda a esperança e que por isso mesmo, pudesse contemplar com ironia o autor de toda a esperança. Girod teve a impressão de que a qualquer momento iria sorrir diante do que experimentava, de que não iria sentir nenhum desfalescimento e um nome familiar – um nome que havia ouvido ser pronunciado várias vezes pelos doze homens, sem se aperceber disso – ressoou em seus ouvidos: ‘Cristo’.” “Onde o havia ouvido? Não saberia dize-lo. Sabia que era o nome de um homem jovem, mas não se recordava de nada mais. Ainda ouviu outra vez o nome de Cristo. Havia também outro nome como o de Cristo, que lhe deu uma impressão de profunda paz, e ao mesmo tempo, de grande sofrimento. E não somente de paz, mas de alegria. Uma vez mais foi pronunciado o nome de Cristo; Ah! A outra palavra era ‘Cruz’; agora o recordava: uma coisa longa, com outra amis curta atravessada...” “A visão se eclipsou. Os doze adoradores se calaram e ficaram estendidos no chão, uns junto aos outros, como entorpecidos e presas de esgotamento. Ao cabo de alguns minutos se levantaram, trêmulos e titubeantes contemplaram por alguns momentos o abade, que se sentia igualmente extenuado.” “Pomerantseff, com extraordinária presença de espírito, se dirigiu para o sacerdote, o empurrou para a porta por onde haviam entrado e depois de a ter fechado com chave para não serem seguidos pelos demais, se assentaram por alguns momentos na antecâmara.” “Esta retirada repentina terminou de esgota-los, física e mentalmente. O príncipe, que só parecia conservar o uso dos sentidos com um esforço mecânico, voltou a colocar cuidadosamente a venda sobre os olhos do abade, que havia conservado por todo o tempo o pedaço de tecido na mão crispada. Só quando já estavam fora, se deram conta de que haviam esquecido os chapéus.” “-Agora não importa – murmurou Pomerantseff – seria perigoso voltar lá.” “E empurrando o abade para dentro da carruagem que os havia esperado gritou ao cocheiro:” “-A galope!” “Não trocaram uma palavra durante o caminho. Chegando ao ponto de partida, e Pomerantseff tirou a venda dos olhos de seu amigo. O abade não soube dizer jamais como conseguiu chegar a sua moradia.” “No dia seguinte teve febre alta e delirou”. Até aqui o relato reproduzido do “Blackwood Magazine”. Ao que tudo parece indicar o “Décimo Terceiro” personagem, tão belo, tão inteligente, tão firme e orgulhoso, e ao mesmo tempo tão cheio de desespero, era o mesmo que as lojas conhecem sob o nome de “Hiram” e que a Revelação Divina nomeia como Satanás, Lúcifer, o Arcanjo Decaído da Luz. A outra aparição teve igualmente lugar em França. O Reverendíssimo Padre Alexandre Vincent Jandel, mestre geral da Ordem dos Pregadores, pregava em Lyon, antes de ser nomeado pelo Papa Pio IX para tão elevado posto. Sentiu-se um dia presa do desejo de mostrar aos fiéis a virtude do sinal da cruz; e pregou longamente sobre o tema. Ao sair da catedral aproximou-se dele um homem que lhe disse: “-O Senhor crê deveras no que acabou de dizer?” “-Se não acreditasse nisso não o ensinaria aos demais – respondeu o reverendo -. A virtude do sinal da cruz é reconhecida por toda a Igreja.” “-Deveras? –Murmurou seu interlocutor com ar de assombro -. E o Sr. Crê nisto? Pois bem. Escute o que vou lhe dizer: eu sou maçom e não acredito, mas fiquei profundamente surpreso com o que o Sr. Acaba de ensinar aos que ouviam. E vou propor-lhe que ponha à prova a eficácia deste sinal. Todas as noites nós nos reunimos na rua tal, número tal, e o próprio demônio convém em presidir nossas oficinas. Venha o senhor numa noite comigo. Ficaremos na porta da sala, e o Sr. fará o sinal da cruz sobre a assembléia. Assim eu poderei verificar se o que disse é verdadeiro.” “-Tenho uma fé absoluta na virtude do sinal da cruz – respondeu o Pe. Jandel – mas não posso aceitar sua proposta sem ter meditado serenamente sobre ela. Dê-me três dias para refletir.” “-Quando o Sr. Quiser provar sua fé estarei a suas ordens – respondeu o maçom -. E deu o nome e endereço completos ao dominicano.” O Pe. Jandel se entrevistou imediatamente com o Mons. De Bonald e lhe perguntou se deveria aceitar o desafio em nome da Cruz. O arcebispo convocou vários teólogos e discutiu com eles durante bastante tempo os prós e os contras desta decisão. Todos concluíram de acordo em que o Pe. Jandel deveria aceitar. “Ide, filho meu – disse Monsenhor De Bonald ao reverendo Jandel, abençoando-o -. E que o Senhor vá convosco.” Quarenta e oito horas restavam ao padre Jandel para a prova, e as passou orando, mortificando-se e recomendando-se às orações de seus amigos. Ao cair da tarde do dia designado, estava batendo à porta do maçom. Este o esperava. Nada podia revelar no Padre um religioso. Estava vestido com um traje secular; só trazia, oculta entre suas roupas, uma grande cruz. Saíram e em pouco tempo chegaram a seu destino: uma vasta sala luxuosamente mobiliada. Detiveram-se à porta. Pouco a pouco a habitação se foi enchendo de gente; todos os assentos iam ser ocupados, quando apareceu o demônio, em forma humana. Então Pe. Jandel, tirando do peito a cruz que levava oculta, a ergueu com as duas mãos formando sobre a concorrência o sinal da cruz. Um raio que tivesse caído dentro do aposento não teria sido mais inesperado, mais súbito, mais cegante. As velas se apagaram, os assentos se voltaram uns sobre os outros, os presentes fugiram. O maçom conduziu o padre e quando já estavam longe, sem ter percebido de que modo escaparam às trevas e à confusão, o maçom se deixou cair de joelhos diante do dominicano. “-Creio! – lhe disse, creio! Rogue por mim! Converta-me! Escute-me em confissão!” Tal é o fato, conforme foi referido em vários órgãos da imprensa religiosa. E ainda podemos oferecer um outro exemplo. “Um oficial francês, jovem, recém afiliado à maçonaria, ia pronunciar seus últimos juramentos e receber a última iniciação numa trans-loja. Os irmãos se haviam reunido para a lúgubre cerimônia quando, de improviso, apareceu entre eles um demônio sob forma humana, em que pese as portas e janelas estarem cuidadosamente fechadas.” “Diante desta visão o oficial se sobressaltou e pensou: ‘Visto que o diabo existe, então também existe Deus!’ O pensamento da justiça divina se apresentou ao mesmo tempo diante de seu espírito aterrado e ele não se atreveu a ir mais além; a misericórdia infinita de Deus o esperou até este momento e a graça tocou seu coração.” “Após sua conversão, deixou o Exército e entrou no noviciado de uma Ordem religiosa. Ordenado sacerdote consagrou longos anos aos trabalhos das missões estrangeiras. Voltou à França e foi superior de uma comunidade durante algum tempo. Ao tempo em que foi escrito isto ainda vivia, e o fato a que se refere este relato foi narrado por ele mesmo ao Padre Jourdan de la Pasardiére, Superior dos Oratorianos de São Phelippe Néri.” Não queremos multiplicar as histórias deste gênero. Não seria senão uma continuação da história da magia negra que se repete em todos os séculos, embora suas formas sejam distintas conforme os tempos. A maçonaria é herdeira direta das antigas superstições diabólicas, assim como da demonologia do antigo paganismo. Neste sentido, compreendemos as palavras do Presidente ao iniciante do último grau, o trinta e três: “Antes de revelar-te o ‘segredo supremo’ que faz ‘nossa força’ e torna eterna a maçonaria (pois Satanás não morre jamais) hei de rogar-te, irmão, que nunca te afastes dos princípios essenciais sobre os quais descansa toda a organização maçônica. O primeiro princípio é que ‘o poder vem de baixo.’”(P. Rosen: “Satanás”, pág. 278) Jesus Cristo ensina o contrário ao dizer a Pilatos: “De nada te serviria teu poder sobre mim, se não te fosse dado do alto.” |