ALQUIMIA E A MAÇONARIA |
pelo Ven.Irmão Lucas Francisco GALDEANO |
"O menor dos homens é como a água.
A água a todas as coisas beneficia
E com elas não compete.
Ocupa os (humildes) locais visto por todos com desdém
Nos quais se assemelha ao Tao
Em sua morada (o Sábio) ama a (humilde) terra
Em seu coração ama a profundidade
Em suas relações com os outros, ama a gentileza
Em suas palavras, ama a sinceridade
No governo ama a paz
No trabalho, ama a habilidade
Em suas ações ama a oportunidade
Porquanto não quere-la
Vê-se livre de reparos."
O quarto elemento, o fogo, também une os propósitos dos dois colégios. Para a Maçonaria o fogo cujas chamas sempre simbolizam aspiração, fervor e zelo deve lembrar ao iniciado que este deve aspirar a excelência e a verdadeira glória e trabalhar com dedicação nas causas empenhadas, principalmente as do povo, da pátria e da ordem.
Para o alquimista o fogo é tratado na operação calcinatio. Eis porque toda imagem que contém o fogo Livre queimando ou afetando substâncias se relaciona com a calcinatio. O fogo da calcinatio é um fogo purgador, embranquecedor. Atua sobre a matéria negra, a nigredo, tomando-a branca. Diz Basil Valentine: "Deves saber que isso (a calcinatio) é o único meio correto e legítimo de purificar nossa substância." Isso a vincula ao simbolismo do purgatório. A doutrina do purgatório é a versão teológica da calcinatio projetada na vida depois da morte.
Morte, um tema muito caro para os maçons e alquimistas. Na Maçonaria a morte é tratada de forma muito especial, na Lenda de Hiram que perpassa vários graus da Escada de Jacó. O maçom conhece muito bem estas palavras:... o pó volte a Terra e o espírito volte a Deus que o deu...
Para o alquimista a morte também é um processo, uma continuação
mas a inclinação do espírito é a vida e paz”. A identificação do corpo e da carne com a morte deve-se ao fato de que tudo aquilo que nasce no plano espaço-temporal deve submeter-se às limitações dessa existência, que incluem um fim a morte. Esse é o preço do ser real. Uma vez plenamente coagulado ou encarnado, o conteúdo torna-se sem vida, sem maiores possibilidades de crescimento. Emerson exprime essa idéia: "Somente a vida é beneficio, e não a ter vivido. A força cessa no instante do repouso; ela reside no momento da transição de um estado passado para um novo, na voragem do abismo, no arremesso contra o alvo. Eis um fato que o mundo abomina. O fato de a alma vir a ser porquanto isso degrada o passado, tornando todos os bens em pobreza, toda reputação em vergonha, confundindo o santo com o velhaco, varrendo Jesus e Judas para longe, sem distinção.” Realizada a plena coagulatio, vem a putrefactio. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no espírito do espírito ceifará a vida eterna. Um texto alquímico trata do mesmo tema: o leão, o sol inferior pela carne se corrompe... Assim, o leão tem corrompida a natureza por meio da sua carne, que segue os ritmos da lua, e é eclipsada. Porque a lua é a sombra do sol, e com o corpo corruptíveis é consumida; e, por meio da destruição da lua, o leão é eclipsado com auxílio da umidade de mercúrio; o eclipse não obstante, é transmutado tomando-se útil e de melhor natureza, e ainda mais perfeito do que o primeiro. Em vários graus da Maçonaria o crânio é uma peça importante tanto na representação do grau como na ornamentação do templo para o ritual do grau. Pois bem, na alquimia o crânio como momento mori é um emblema da operação da mortificatio. Ele produz reflexões a respeito da mortalidade pessoal de cada um e serve como pedra de toque para os valores falsos e verdadeiros. Refletir sobre a morte pode nos levar a encarar a vida sob perspectiva da eternidade e, desse modo, a negra cabeça da morte pode transformar-se em ouro. Com efeito, a origem e o crescimento da consciência parecem estar vinculados de maneira peculiar à experiência da morte. Talvez o primeiro par de opostos a penetrar na consciência em vias de despertar dos seres humanos primitivos tenha sido o contraste entre o vivo e o morto. E provável que somente a criatura mortal seja capaz de ter consciência. Nossa mortalidade é nossa fraqueza mais importante e derradeira. E essa fraqueza, segundo C. G. Jung, foi o elemento que colocou Jó em vantagem diante de IAHWEH. Esta palavra é muito significativa em alguns graus da Escola Filosófica da Maçonaria (REAA). IAHWEH é o nome da Divindade expressa no Antigo Testamento do Livro Sagrado. Para o alquimista IAHWEH redime e purifica pelo fogo sagrado, daqueles que passaram pela calcinatio: "Não temas, porque eu te resgatei, eu te chamei pelo teu nome, és meu. Quando passares pelo mar, estarei contigo; quando passares pelos rios eles não te submergirão. Quando passares pelo fogo, a chama não te atingirá e não te queimarás. Pois eu sou IAHWEH, teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador. O Juízo final pelo fogo corresponde à provação pelo que testa a pureza dos metais e lhes retira todas as impurezas. Há inúmeras passagens do Antigo Testamento que usam metáforas para descrever os testes que IAHWEH submete seu povo eleito. Por exemplo, IAHWEH diz: "Voltarei minha mão contra ti, purificarei as tuas escórias no cadinho, removerei todas as impurezas." (Isa., 1:24,25) "E eis que te pus na fogueira como a prata, testando-te no cadinho da aflição. Por causa de mim mesmo e só por mim mesmo, agi - deveria meu nome ser profanado? Jamais darei minha glória a outro." (Isa.,48;10,11) "Eu os levarei ao fogo, e os purificarei como se purifica a prata, e os testarei como se testa o ouro. Eles invocarão meu nome e eu escutarei, respondendo: Eis o meu povo; e todos dirão IAHWEH é meu Deus.” (Zacarias 13:9) O fogo purifica e santifica a matéria bruta e corrompida, os maçons e alquimistas sabem disso, no entanto, o fogo da Senda Sinistra mata e regride a evolução que o ser procura na sua existência. Este fogo nada mais é do que a luxúria, a inveja e ira. Nesta categoria temos a ira que moveu Nabucodonosor, ao destruir o Templo de Salomão. Ele personifica o motivo do poder, a autoridade arbitrária do ego inflamado, que passa pela calcinatio quando suas pretensões irresistíveis são frustradas pela presença da autoridade transpessoal. Nabucodonosor corresponde ao rei alquímico, que serve de alimento ao lobo e depois é calcinado Conclusão: A Maçonaria e os maçons com as suas alegorias de construção, como ferramentas: trolha, esquadro, compasso, régua, maço, cinzel; materiais como tríplice argamassa, de forma alguma querem dar a entender que queiram construir algum prédio material - quando assim o querem contratam uma firma especializada - mas sim a construção de um Templo Espiritual à Divindade Maior, o Grande Arquiteto do Universo. É a procura do auto-conhecimento para purificar o ente de cada obreiro, e a partir daí construir a morada do Espírito Santo como falam os cristãos. Essa construção maçônica percorre vários patamares (Escada de Jacó) e à medida que o maçom vai galgando os seus degraus (os graus maçônicos) ele tem um compromisso com a Lei do Karma de estar mais santificado que no patamar anterior. Da mesma forma o alquimista no seu trabalho de manipulação das substâncias não quer dizer que ele queira conseguir ouro material. Alquimia é a ciência pela qual as coisas podem não ser decompostas e recompostas (como se faz em química), mas também sua natureza essencial pode ser transformada e elevada ao mais alto grau ou ser transmutada em outra. A química trata apenas da matéria morta, enquanto a Alquimia emprega a vida como fator. Todas as coisas têm natureza tríplice, da qual sua forma material e objetiva é sua manifestação inferior. Assim é que, por exemplo, há ouro espiritual, imaterial; ouro astral etéreo, fluído e invisível, e ouro terrestre, sólido, material e visível. Os dois primeiros são, digamos assim, o espírito e a alma do último e, empregando os poderes espirituais da alma, podemos produzir mudanças nele, a fim de que se, tornem visíveis no estado objetivo. Certas manifestações exteriores podem ajudar aos poderes da alma em sua operação. Porém, sem os segundos, as manipulações serão totalmente inúteis. Portanto, os procedimentos alquímicos podem ser utilizados com êxito unicamente por aquele que é o alquimista nato ou por educação. Sendo todas as coisas de natureza tríplice, a Alquimia também apresenta um aspecto triplo. No aspecto superior, ensina a regeneração do homem espiritual, a purificação da mente e da vontade, o enobrecimento de todas as faculdades anímicas. No aspecto mais inferior trata das substâncias físicas e, abandonando o reino da alma viva e desvenda matéria morta. Termina na química de nossos dias. A Alquimia é um exercício do poder mágico da livre vontade espiritual do homem e, por esta razão, pode ser praticada apenas por aqueles que renascem espiritualmente. Por último, passarei a palavra final aos alquimistas, ao citar, in toto, seu texto mais sagrado. A Tábua da Esmeralda de Hermes. Via-se esse texto “como uma espécie de revelação sobrenatural aos filhos de Hermes, feita pelo patrono e sua Divina Arte”. De acordo com a lenda, a tábua da Esmeralda foi encontrada no túmulo de Hermes Trismegistus, por Alexandre o Grande, ou, em outra versão, por Sara, a esposa de Abraão. A princípio, só se conhecia o texto em latim, mas, em 1923, Holmyard descobriu uma versão árabe. É provável que um texto anterior tenha sido escrito em grego e, segundo Jung tinha origem alexandrina. Os alquimistas o tratavam com veneração ímpar, gravando suas afirmativas nas paredes do laboratório e citando-o constantemente em seus trabalhos. Trata-se do epítome críptico da opus alquímica, uma receita para segunda criação do mundo, o unus mundus A TÁBUA DA ESMERALDA DE HERMES 1. Verdadeiro, sem enganos, certo e digníssimo de crédito. 2. Aquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima, e àquilo que está em cima é igual àquilo que está em baixo, para realizar os milagres de uma só coisa. 3. E, assim como todas as coisas se originam de uma só, pela mediação dessa coisa, assim também todas as coisas vieram dessa coisa, por meio da adaptação. 4. Seu pai é o sol; sua mãe, a lua; o vento a carregou em seu ventre; sua ama é a terra. 5. Eis o pai de tudo, a complementação de todo o mundo. 6. Sua força é completa se for voltada para dentro (ou na direção) da terra. 7. Separa a terra do fogo, o sutil do denso, com delicadeza e com grande ingenuidade. 8. Ela ascendeu da terra para o céu, e desce outra vez para a terra, e recebe o poder do que está em cima e do que está embaixo. E, assim, terás a glória de todo o mundo. Desse modo, toda a treva fugirá de ti. 9. Eis o forte poder da força absoluta; porque ela vence toda coisa sutil e penetra todo sólido. 10. E assim o mundo foi criado. 11. Daqui as prodigiosas adaptações, à feição das quais ela é. 12. E assim sou chamado HERMES TRISMEGISTUS, tendo as três partes da filosofia de todo o mundo. 13. Aquilo que eu disse acerca da operação do sol está terminado. BIBLIOGRAFIA 1) Blavatsky, Helena P. Glossário Teosófico. São Paulo: Global Editora e Distribuidora 2) Edinger, Edward F. Anatomia da Psique: O Simbolismo Alquímico da Psicoterapia 3) Figueiredo, Joaquim Gervásio de Dicionário de Maçonaria. São paulo: Pensamento/1987 4) Rituais do Grande Oriente do Brasil e do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito ( R.·.E.·.A.·.A.·.).
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