VINTE DE SETEMBRO O PRECURSOR DA LIBERDADE.
Não basta para ser livre ser forte, aguerrido e bravo, povo que não tem virtude, acaba por ser escravo.
Hoje, 20 de setembro de 2008, um dia nublado, cinzento, sopra um vento frio e forte neste amado rincão gaúcho.
Pela rua passa uma tropa, cavalos vistosos, bem cuidados, montados por orgulhosos cavaleiros e belas amazonas, portando bandeiras e estandartes alusivos ao Estado do Rio Grande do Sul e à revolução farroupilha, numa demonstração que a chama da liberdade e dos mais elevados ideais de justiça e democracia permanecem ardendo nos corações dos gaúchos.
Tem-se como ano de 1835 o início da revolução farroupilha. Na época funcionava no local onde é hoje o loteamento Balneário Alegria, Praia da Alegria, fundos do Clube Recreativo Riocell, na cidade de Guaíba, uma charqueada pertencente a um dos revolucionários de primeira hora, Gomes Jardim. Foi dessa charqueada que foi lançado o ataque a Porto Alegre, que começou com a tomada da ponte da Azenha, deflagrando o movimento.
O mais provável é que os ideais revolucionários começaram a nascer com o surgimento da maçonaria no Rio Grande do Sul no início do século XIX.
A fundação da primeira Loja Maçônica ocorreu no dia 23 de novembro de 1831, em Porto Alegre, com o nome de Loja Philantropia & Liberdade, sob a obediência do Grande Oriente Nacional Brasileiro.
Essa Loja se originou da "Sociedade Literária Correntino", embrião e baluarte do Movimento Farroupilha. Bento Gonçalves da Silva foi o primeiro Venerável Mestre dessa Loja Maçônica.
O planejamento estratégico e logístico das primeiras ações revolucionárias foi desenvolvido entre colunas desse templo Maçônico, que existe até hoje e está sediado em Porto Alegre/RS, tendo ali sido firmado o Pacto Revolucionário Farroupilha em 18 de setembro de 1835.
Nessa reunião secreta e histórica foi feita a coleta da quantia no valor de 350$000 e por proposição de José Mariano de Mattos foi destinada à compra de uma Carta da Alforria de um escravo de meia idade, proposta aceita por unanimidade, o que demonstra o espírito abolicionista e anti-escravagista dos revolucionários Maçons.
As causas do conflito foram várias, políticas, econômicas, militares e sociais, mas foi essa última que amalgamou os diferentes seguimentos sociais no ideal comum e revolucionário, unindo negros, índios e brancos.
O Rio Grande do Sul tinha na época uma população de aproximadamente 150 mil habitantes entre brancos, escravos e índios. Inexistia uma única escola pública, as estradas eram precárias, não havia uma ponte construída, a infra-estrutura era nenhuma.
O centro cultural era Buenos Aires que fervilhava embalado pelo sonho de Bernardino Rivadavia, um argentino apaixonado pela Revolução Francesa.
Como ministro de Guerra e das Relações Exteriores do presidente Martín Rodríguez (1821-1824), e depois como presidente (1826-27), Rivadavia incentivou a imigração italiana como uma forma de trazer da Europa, intelectuais e professores para fomentar as atividades culturais argentinas e preencher as cátedras da Universidade de Buenos Aires.
A Maçonaria novamente teve papel importante nesse projeto facilitando que esses intelectuais e profissionais fossem mais facilmente encontrados, especialmente entre os exilados políticos. Vieram muitos italianos na chamada “imigração política”: médicos, químicos e artistas contratados para organizar a vida cultural portenha.
Essas influências culturais causaram profunda impressão nos líderes revolucionários, impregnando a revolução com esses ideais liberais e libertários.
A província de São Pedro (Estado do Rio Grande do Sul) era totalmente abandonada pelo poder central que nem mesmo as fronteiras defendia, alvo constante de invasões castelhanas.
Eram as milícias formadas por cidadãos comuns que, sazonalmente viam-se obrigados a relegar à segundo plano suas atividades diárias e fazer às vezes de exército para defender a pátria.
Apesar do seu continuado sacrifício nessas batalhas de fronteiras e apesar da riqueza da Corte advinda do cultivo do café, apesar do massacre de sua população masculina dizimada pelas guerras, apesar do infindável luto das mulheres gaúchas, o Rio Grande do Sul não recebia qualquer atenção ou reconhecimento por parte do império. O descontentamento do povo era total.
E foi assim que por dez longos anos lutaram aqueles irmãos valorosos em busca de justiça e dignidade para todos nós gaúchos, mantendo a honradez mesmo em batalha.
São inúmeros os relatos de variados episódios da prática de atos imbuídos de elevados valores humanitários, certamente, pelo fato de haver Maçons entre as fileiras do exército legalista e dos revolucionários.
Comenta-se que a tentativa de tomar São José do Norte, para garantir um porto, resultou naquele que foi considerado o combate mais sangrento da revolução. Conta-se que as ruas da vila ficaram cobertas de cadáveres.
Apesar da violência do evento, ele também é lembrado pelo gesto cavalheiresco do coronel Antonio Soares Paiva, que comandava a guarnição legalista da cidade. Ao término do combate, Bento Gonçalves - que estava à frente das tropas farroupilhas lhe enviou uma mensagem, dizendo que se achava sem médico e remédios para seus feridos. O coronel Paiva, então, lhe mandou um médico e metade dos medicamentos de que dispunha. Em agradecimento, Bento libertou todos os prisioneiros legalistas.
Bento Gonçalves foi preso em 1836 junto com outros líderes revolucionários no combate da ilha do Fanfa (em Triunfo). Foi enviado para a prisão de Santa Cruz e mais tarde para a fortaleza de Lage, no Rio de Janeiro, onde chegou a tentar uma fuga, da qual desistiu porque seu companheiro de cela, o também farrapo Pedro Boticário, era muito gordo, e não conseguiu passar pela janela. Depois desse episódio Bento foi transferido para o forte do Mar, em Salvador.
Em 1837, auxiliado pela Maçonaria, fugiu da prisão. Fingindo que ia tomar um banho de mar, ele começou a nadar diante do forte até que, aproveitando um descuido dos guardas, fugiu - a nado - em direção a um barco que estava à sua espera.
Hoje ao ver os cavalos passando montados por orgulhosos gaúchos e gaúchas senti um misto de alegria, tristeza e uma certeza.
- Alegria por não termos nos esquecido de nossos irmãos que tanto fizeram, pelo respeito e gratidão que nutrimos.
- Tristeza por ver que quase duzentos anos se passaram e não atingimos na plenitude os objetivos da revolução farroupilha. Continuamos com exagerada concentração de poder pelo governo central, com enorme centralização tributária e das decisões políticas.
A carga tributária nunca foi tão brutal como é hoje, em torno de 40% do PIB, 80% da arrecadação fica nas mãos do governo federal. Basta lembrar que além da revolução farroupilha também a inconfidência mineira liderada por Tiradentes se insurgiu contra a carga tributária quando era mísero 1/5 do PIB (o quinto dos infernos).
A educação e a saúde pública ainda são deficitárias em nosso estado. Nossos portos, aeroportos e estradas são ruins. Produzimos muito e temos dificuldades de escoamento dessa produção pela falta de infra-estrutura.
- Certeza de saber que, apesar do ato de pacificação assinado no dia 1° de Março de 1845 em Ponche Verde, apesar dos avanços e conquistas, a luta continua. Permaneçamos mobilizados e vigilantes lutando não mais com armas mortais em campo aberto, mas nas dimensões institucionais com o poder das idéias balizados pela ética.
SIRVAM NOSSAS FAÇANHAS DE MODELO A TODA TERRA !
andreia caetano
piumhi/mg
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