O PRIMEIRO TEMPLO MAÇÔNICO
Todos sabemos, a Maçonaria não é religião. Entretanto, suas Lojas trabalham em "templos", o que para a maioria das pessoas parece uma contradição, posto que "templo", comumente, é local de prática religiosa.
Na verdade, porém, a melhor conotação que se empresta ao termo é de "lugar sagrado", entendendo-se "sagrado" como "reservado", onde se cultua alguma coisa, não, necessariamente, uma "religião". Os parques, as reservas naturais, que a humanidade luta por preservar, em nossos dias, livrando-os da destruição sócio-econômica, não raro são também chamados de "templos da natureza". Até mesmo os ateus, que longe estão de ser religiosos, sentem-se envolvidos, dentro deles, por tal clima sacramental.
O uso do termo vem desde a época dos romanos do latim "templum", e significava o local onde os sacerdotes se posicionavam, a céu aberto, para observá-lo e a todas as manifestações "celestiais" da natureza, ou dos "deuses". Note-se que o termo "contemplar" compõe-se, precisamente, de "cum + templum", e significava "estar absorto com o tempo", vindo, etimologicamente, a assumir a carga mística que hoje encerra, numa primeira acepção.
Mas, por que esses locais reservados pelos franco-maçons para o trabalho de suas Lojas são denominados de "templos", a ponto de dar a entender que aí se pratica uma religião?
É bom que se saiba que, no passado, nem sempre os locais de trabalho das Lojas ocorriam em "templos", como hoje os vemos. Claro, estamos falando da franco-maçonaria já do ponto de vista "especulativo" e não do "operativo". No período "operativo", quando a missão do maçom (pedreiro) era a construção dos edifícios, os canteiros de obra eram os locais onde também se reuniam, onde tinham seus alojamentos, onde conviviam pelo tempo necessário à construção.
Quando se dá a transição para o período "especulativo", a fase dos "aceitos", que não eram "operários", mas "pensadores" (digamos assim), suas reuniões ou ocorriam nos adros das igrejas, das catedrais, ou, como era mais comum, junto das tavernas, das cervejarias, das estalagens e hospedarias, em salas reservadas.
Lembremo-nos dos locais onde se reuniam as quatro Lojas inglesas que fundaram, em 1717, a Grande Loja de Londres e Westminster, precisamente, em quatro desses locais: 1) O Ganso e a Grelha (The Goose and Gridiron); 2) A Coroa (The Crown); 3) A Macieira (The Apple Tree) e 4) O Copázio e as Uvas (The Rummer and Grapes), cervejarias as duas primeiras e tabernas as duas últimas, que emprestavam seus nomes para essa Lojas que, na época, ainda não costumavam ter nomes distintivos próprios, como hoje.
Fundada a Grande Loja de Londres e Westminster (24/06/1717), vai demorar muito ainda para que as Lojas ganhem espaços próprios para seus trabalhos. Elas continuam se valendo dos mesmos locais de sempre, em sua grande maioria. Isso porque era costume ocorrerem as reuniões às mesas de refeições, os franco-maçons comendo, bebendo e discutindo seus temas. E até mesmo "admitindo" novos obreiros. O simbolismo, entretanto, já estava presente, mesmo porque ele é da essência da Instituição. Assim, durante as reuniões, nesses locais, riscavam sobre o chão os desenhos maçônicos (colunas, trolhas, compassos, réguas, esquadros, etc.). Ou então já dispunham de uma espécie de tapete, onde tais desenhos já estavam previamente grafados.
Desse período é que surgiu a expressão "goteira". Trabalhando sempre a cobertos, isto é, em recintos fechados, despertavam a curiosidade, de modo que havia quem, para ver o que faziam, pendurava-se nas calhas (goteiras) para espreitar através das janelas. Quando esses curiosos eram percebidos, o alerta era dado, mais ou menos como "tem goteira".
Estamos falando dos franco-maçons ingleses, mas, na França, não era muito diferente, embora também outros locais fossem utilizados. É bom lembrarmos das famosas Lojas Militares, anteriores à fundação da Grande Loja Londrina, que eram formadas por aristocratas, fidalgos, militares ingleses, irlandeses, escoceses e mesmo franceses, que já pertenciam à franco-maçonaria, na condição de "aceitos". Isso ocorreu quando da deposição e decapitação do católico Carlos I (1649). Fugindo da ditadura de Cromwell (1649 a 1658), os dois filhos de Carlos I, os futuros Carlos II (1660 a 1685) e Jaime II (1685 a 1688), exilam-se na França, acompanhados daqueles fidalgos. Homiziados no Castelo de Saint Germain, aí articulam-se, política e militarmente, valendo-se da Maçonaria para seus contatos secretos e trânsito, em toda a Europa. Praticavam a Maçonaria, ou "maçonavam", como diziam, reunindo-se em tendas de campanha e em salas dos palácios. Data dessa época as primeiras tentativas de ingresso da mulher, na Maçonaria, razão por que a França aparece como o país onde tal aspiração teve início, e as bases nacionais da futura franco-maçonaria francesa.
Mas, voltando à Inglaterra, berço da moderna Maçonaria, fundada a Grande Loja de Londres e Westminster, em 24 de junho de 1717, dizíamos que por muito tempo os trabalhos das suas Lojas continuariam a se desenvolver nos mesmos lugares, as tavernas, cervejarias, estalagens e hospedarias.
Foi somente em 1775, com a pedra fundamental lançada a 1º de maio, que tem início, em Londres, na Great Queen-Street, a construção do primeiro templo maçônico, o "Freemason’s Hall". Soberbo, majestoso, imponente, belíssimo, foi inaugurado um ano depois, no dia 23 de maio de 1776, com as características com que os vemos hoje. A França não ficaria atrás e, em 1788, também constrói o seu primeiro Templo Maçônico. Desde então, as Lojas Regulares foram proibidas de voltarem a se reunir em tavernas, etc. Algo que também não se pode ignorar é, não obstante esse primeiro Templo Maçônico seguir os mesmos princípios de orientação e divisão interna, comum às igrejas anglicanas (Inglaterra), que, por sua vez, obedeciam ao modelo do Templo de Salomão, outras influências se fizeram sentir, ao longo do tempo, perseguindo-se a intenção de que o templo maçônico represente a terra e o universo. Por exemplo, pintar o teto como um céu cheio de estrelas, de planetas, o Sol e a Lua, lembrando um costume egípcio (Templo de Luxor); as colunas Jônica, Dórica e Coríntia, mais as estátuas de Minerva, Hermes e Vênus, e as Doze Colunas Zodiacais, que o enfeitam, como num templo greco-romano, e por aí vai. Outra forte influência, mais próxima da época da construção, foi a do Parlamento britânico, com a disposição interna dos bancos (assentos).
No parlamento inglês, o Primeiro Ministro tem assento, na Great Chair, ao fundo da sala (oriente?), onde fica ladeado pelos líderes do governo e da oposição. Os parlamentares restantes ficavam no resto da sala (ocidente?), sentados uns em frente aos outros, separados por um corredor. A disposição era, assim, triangular: no ápice, a Great Chair; lado esquerdo e lado direito, do corredor, os parlamentares da situação e os da oposição. Atualmente, há os parlamentares independentes que se sentam no corredor central, de frente para a Great Chair. E a sala que antecede esse local, do lado de fora, chama-se "Sala dos Passos Perdidos", que foi também adotada, nos templos maçônicos.
Na verdade, com a posterior proliferação de ritos e mais ritos, os templos maçônicos foram sendo alterados, ainda que, na essência, guardassem as mesmas peculiaridades do original. Além do que, outras inovações e, até mesmo, aberrações, foram sendo perpetradas, quase descaracterizando, os templos, como maçônicos. Nesse sentido, leia-se o artigo do Ir. José Castellani, "Meninos, eu vi!", publicado na revista A Trolha no. 48, pág. 77/8, de julho/agosto-1990, e que será bastante esclarecedor.
Além do mais, há a Ortografia abaixo, sobre a matéria, para maiores detalhes e informações aos que desejarem se aprofundar. Outra obra importante é, também, "O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica", de Alex Horne, da Editora Pensamento, um verdadeiro tratado, em termos de pesquisa histórica e origem da "Lenda de Hiran". Aqui, neste trabalho, nossa preocupação foi exclusivamente introdutória. Suficiente, entretanto, para a idéia geral.
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